O Conselho de Segurança das Nações Unidas condenou ontem, "nos termos mais firmes", o governo sírio pelo massacre de Hula, no qual morreram 108 pessoas e outras 300 ficaram feridas. Os 15 membros do Conselho de Segurança, incluindo a Rússia, destacaram que os ataques "usaram disparos de artilharia e tanques do governo contra um bairro residencial", e pediram ao presidente sírio, Bashar al Assad, a retirada do armamento pesado das cidades sírias. "Os membros do Conselho de Segurança reafirmaram que qualquer tipo de violência, proveniente de qualquer das partes, deve cessar. Os responsáveis pelos atos de violência prestarão contas".
A Rússia questionava a responsabilidade de Damasco no massacre e exigiu que o Conselho ouvisse o chefe dos observadores das Nações Unidas na Síria, general Robert Mood, que revelou que as mortes em Hula foram provocadas por estilhaços e tiros a queima-roupa. Segundo os observadores da ONU na Síria, entre os 108 mortos em Hula há 32 crianças com menos de 10 anos. O porta-voz do ministério sírio das Relações Exteriores, Jihad Makdissi, negou "totalmente qualquer responsabilidade do governo neste massacre terrorista". O emissário internacional Kofi Annan chegará à Síria hoje em uma tentativa desesperada de salvar seu plano de paz, que previa uma trégua que entrou em vigor no dia 12 de abril, mas que não foi respeitada.
Para o Exército Sírio Livre (ESL), composto essencialmente por desetores, "a menos que o Conselho de Segurança da ONU tome decisões urgentemente para proteger os civis, o plano de Annan vai para o inferno". Por sua vez, o líder opositor Burhan Ghaliun convocou ontem o povo a travar uma "batalha de libertação" contra o regime de Assad até que a ONU decida agir "sob o capítulo 7", que permite uma intervenção militar. Em Hula, os habitantes culparam a ONU pelo massacre e criticaram os observadores que se aproximaram do local da tragédia, segundo vídeos divulgados na internet. "Havia crianças de menos de 8 meses! O que fizeram? Carregavam, por acaso, lança-foguetes?", gritava um homem a um observador, visivelmente emocionado. Outro vídeo mostrava uma fossa comum na qual foram colocados dezenas de cadáveres envolvidos em lençóis brancos, alguns manchados de sangue. "Matam-nos e o mundo segue de braços cruzados. Vão ao diabo com seu plano", gritava um homem em outro vídeo divulgado na internet.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, defendeu seus observadores no terreno, afirmando que "enfrentam críticas por não deterem a violência e, em alguns bairros, são até acusados pelo aumento da mesma (...) mas existe a ideia equivocada, difícil de corrigir, sobre o papel de observadores militares desarmados, do que podem ou não fazer". A ONU tem mais de 280 observadores na Síria, que monitoram o cessar-fogo iniciado oficialmente em 12 de abril, mas não adotado na prática.
Ontem foram registrados violentos combates na cidade de Hama, no centro do país, que teriam deixado 11 mortos, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), com sede em Londres. Segundo a ONG, mais de 13 mil pessoas, a maioria civis, morreram violentamente desde o início da revolta contra o regime de Assad.