Semana passada estiveram na França as maiores autoridades mundiais em pesquisas climáticas para uma reunião do Intergovernmental Panel on Climatic Change, IPCC. Entre os brasileiros, estiveram alguns amigos pesquisadores que admiro muito. Naturalmente, quando esta quantidade de notáveis se junta, a mídia acorre ansiosamente, atrás de algum grande fato. Não há novidades em relação às mudanças climáticas.
Em 1957, Roger Revelle publicou um artigo dizendo que os oceanos não absorveriam os aumentos da quantidade de gás carbônico na atmosfera. Até então, a idéia era que sendo o gás carbônico uma matéria prima da fotossíntese, havendo mais dele, haveria mais fotossíntese, e tudo se resolveria. Revelle publicou um artigo dizendo que devido a algumas particularidades químicas dos oceanos, eles não absorveriam o gás carbônico excedente. Posteriormente, a realidade mostrou que ele estava certo. Tudo o que nós precisamos conhecer sobre o assunto, já sabemos há cinco décadas. Uma curiosidade, é que os mesmos Estados Unidos que mais lançam gás carbônico na atmosfera (19t/ano/pessoa) são os que criaram a tecnologia (isótopos de carbono) para a descoberta de Revelle.
Há grandes mudanças climáticas em curso, e outras ainda piores nos aguardando nas próximas décadas. Não devemos perder tempo tentando descobrir se a temperatura subirá dois ou três graus nos próximos cinqüenta anos, porque as conseqüências sociais, ambientais e econômicas em ambos casos serão gravíssimas.
A reunião do IPCC vale muito mais pela atenção que atrai, do que pelas conclusões. Até mesmo o presidente norte-americano, recentemente reconheceu a importância do assunto, provavelmente antecedendo as críticas que viriam desta reunião.
A mídia também tem feito sua parte, martelando e martelando as mesmas coisas. No final do ano passado, uma grande revista publicou matéria de capa sobre sete idéias descabidas para conter o desequilíbrio do clima. Descabidas porque envolvem tecnologia complexa e com resultados duvidosos, e por não gerarem lucro, certamente também não terão também como serem pagas.
A salvação do planeta não está em criarmos uma constelação de espelhos para refletir a luz solar (uma das tais idéias descabidas), assim como não está em descobrirmos cada vez mais detalhes sobre a mudança climática. Nossa salvação está em conseguirmos agir juntos para criar tecnologias que nos permitam viver bem com menos energia.
O efeito estufa não é o único mal que causamos quando usamos cada vez mais fontes energéticas e cada vez menos esforço humano. A crescente obesidade mundial anda lado a lado com nossos hábitos automotivos e industrializados. Estamos em uma relação perde-perde com nosso ambiente. Perdemos cada um e todos nós simultaneamente.
Nós estaremos no bom caminho quando criarmos um câmbio automático para bicicletas, que aumente nossa eficiência, um celular a manivela e computador a pedal. Estaremos bem quando o esgoto em seu caminho tubos abaixo, tocar uma turbina para gerar energia. Precisamos pagar preços menores para aquecer a água com energia solar, assim como gerar energia elétrica a partir do sol. Estaremos bem quando levarmos uma bateria para a academia, e a carregarmos com nosso esforço físico. A condição para que estes produtos existam no mercado está nos hábitos de consumo de cada um, e nós só compramos o que valorizamos.
Ao final, a salvação de nosso planeta está em assumirmos a conseqüência de nossos atos em vez de esperarmos soluções externas, que não virão nem do IPCC, nem de alguma mágica mirabolante.
Efraim Rodrigues, Ph.D., é doutor pela Universidade de Harvard, Professor de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina (UEL), consultor do programa Fodepal da FAO-ONU e autor do livro Biologia da Conservação.
e-mail: efraim@efraim.com.br
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