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País que sofre com a inflação crônica, a Argentina já se acostumou a anúncios do governo de planos de congelamento de preços.
A história econômica prova que tal medida não dá resultados sustentáveis, mas os presidentes argentinos (especialmente os do espectro peronista) seguem apostando nela: na segunda-feira (13), a gestão Alberto Fernández anunciou o programa Preços Justos Carne, que visa estabelecer reduções de 30% a 35% nos preços de sete cortes de carne bovina.
Esse “ajuste” vigoraria da próxima sexta-feira (17) até 31 de março. A partir de 1º de abril e até 30 de junho, tais cortes passariam por aumentos mensais de preços de 3,2%.
O plano inclui subsídios aos produtores para custear até 40% da alimentação necessária para os animais aguardando abate em confinamento e benefícios para os açougues com o objetivo de reduzir a evasão fiscal.
“O objetivo é promover a produção de carne bovina afetada pela seca, bem como a comercialização bancária das vendas e acesso ao consumidor a preços acessíveis e com trajetória de preços previsíveis”, apontaram fontes oficiais à imprensa argentina.
Trata-se de uma nova versão do programa Preços Justos, por meio do qual o governo faz acordos “voluntários” com empresas, produtores e o varejo para fixar preços de itens de primeira necessidade.
Entretanto, a medida nunca deu certo: na terça-feira (14), o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) relatou que a inflação foi de 98,8% em janeiro na Argentina no acumulado em 12 meses, quatro pontos percentuais acima do registrado em dezembro.
Curiosamente, o relatório apontou que a variação dos preços da carne e derivados ficou abaixo do índice geral de preços na Argentina: nas seis regiões geográficas onde o Indec fez a pesquisa, a inflação desse segmento ficou entre 57,7% e 80,9% no indicador interanual.
Produtores e especialistas manifestaram revolta e ceticismo ao comentarem o anúncio dos Preços Justos Carne.
“É uma medida discriminatória que gera desincentivos à produção. Medidas dessa natureza vêm sendo tomadas há vários anos e a produção não cresce, enquanto outros países continuam conquistando mercado interno e externo”, disse o presidente da Sociedade Rural Argentina, Nicolás Pino, em entrevista ao Clarín.
Em declarações publicadas pelo mesmo jornal, o consultor na área de pecuária Víctor Tonelli afirmou que a medida é “jogar para a torcida”. “É sempre a mesma coisa, nada de novo sob o sol: um acordo com redes de supermercados e exportadores que atendem os 30% dos consumidores com mais recursos”, criticou.
Com a inflação corroendo a renda dos argentinos, um informe da Bolsa de Comércio de Rosário (BCR) publicado no ano passado apontou que o consumo de carne bovina foi de 47,8 quilos por habitante no país em 2021, o menor desde 1920.
Apesar disso, a Argentina manteve no ano retrasado um dos maiores consumos per capita do alimento, em levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) realizado em 35 países.