A observação é parte intrínseca do trabalho científico, mas na nanociência nossos olhos não servem para nada. É com isso em mente que um grupo de pesquisadores americanos quer estimular os cegos a se tornarem cientistas.
"Somos todos cegos na nanoescala", diz Andrew Greenberg, do Centro de Engenharia e Ciência de Nanoescala, da Universidade de Winsconsin-Madison, e do Instituto de Educação Química, nos Estados Unidos. "A mensagem para os estudantes cegos é: isso é algo que você pode fazer, esse é um campo em que você pode entrar. Você tem a mesma capacidade para entender o que está acontecendo que qualquer outra pessoa", diz ele.
O menor objeto que conseguimos enxergar é milhares de vezes maior que uma nanoestrutura -- mesmo os melhores e mais avançados microscópios são cegos nessa escala. É com esse argumento que Greenberg e sua equipe estão tentando instigar o interesse pela ciência nos deficientes visuais. "A ciência deve estar aberta a todos que têm interesse", afirma.
Da mesma maneira que alunos que enxergam estudam imagens aumentadas de uma nanoestrutura, os estudantes cegos vão analisar modelos aumentados que podem ser tocados por seus dedos. Isso graças ao trabalho de Greenberg e um de seus alunos, Mohammed Farhoud.
Para começar o trabalho, eles fizeram uma versão em nanoescala do mascote da universidade, Bucky Badger, com nanofibras de carbono. O NanoBucky é tão pequeno que seriam precisos 9 mil cópias dele para preencher uma cabeça de alfinete. Depois, os pesquisadores fizeram uma versão ampliada do NanoBucky, que os alunos cegos podem tocar para entender a estrutura das nanofibras.
O próximo passo da pesquisa será testar o aprendizado dos deficientes visuais para ver se eles realmente conseguiram absorver conhecimentos sobre nanociência. Se der certo, os modelos poderão ajudar até mesmo estudantes que enxergam.
O trabalho foi apresentado originalmente durante a reunião nacional da Sociedade Americana de Química.