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Polêmica

Não há mudança sobre uso de camisinha, diz Vaticano

Bento XVI, na Basílica de São Pedro, durante a entrega dos anéis aos novos cardeais | Tony Gentile/Reuters
Bento XVI, na Basílica de São Pedro, durante a entrega dos anéis aos novos cardeais (Foto: Tony Gentile/Reuters)
Confira alguns trechos do livroLuz do Mundo, do jornalista alemão Peter Seewald |

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Confira alguns trechos do livroLuz do Mundo, do jornalista alemão Peter Seewald

O Vaticano alertou ontem que não há nada de "revolucionário" na afirmação do Papa Bento XVI de que o uso da camisinha em circunstâncias excepcionais pode ser um ato responsável no combate à disseminação do HIV.

O principal porta-voz da Santa Sé, reverendo Federico Lombardi, divulgou um comunicado destacando que o comentário do Papa que será publicado amanhã não "reforma nem muda" os ensinamentos da Igreja, que proíbe o uso de preservativo e outros métodos contraceptivos. Bento XVI tampouco está "justificando moralmente" o exercício ilimitado da sexualidade, acrescentou Lombardi.

O Papa acredita que o uso de camisinha para diminuir o risco de infecção é a "primeira assunção de responsabilidade", diz o comunicado, usando um trecho do livro do jornalista alemão Peter Seewald, Luz do Mundo: o Papa, a Igreja e Sinais do Tempo, baseado em uma longa entrevista concedida por Bento XVI . "O raciocínio do Papa não pode de modo algum ser definido como uma mudança revolucionária", disse o porta-voz.

O jornal do Vaticano, L’Osser­vatore Romano, divulgou ontem trechos do livro -- três dias antes da publicação oficial. Na entrevista, Bento XVI afirmou que em certos casos, como prostituição masculina, o uso da camisinha pode ser um primeiro passo em assumir responsabilidade moral para conter a disseminação do vírus que causa a aids.

Lombardi destacou que o Papa enfatizou a principal recomendação da Igreja na luta contra a aids – a abstinência sexual e fidelidade entre os que são casados. O porta-voz citou as palavras de Bento XVI de que a Igreja "não considera isso (o uso de preservativo) como solução real ou moral". "Com isso, o Papa não está reformando ou mudando o ensinamento da Igreja, mas reafirmando-o, colocando-o no contexto do valor e da dignidade da sexualidade humana como expressão de amor e responsabilidade", disse o porta-voz. Até o fechamento desta edição, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) não havia se manifestado sobre o assunto.

Elogios e ressalvas

A declaração do Papa Bento XVI de que o uso da camisinha é justificado em alguns casos foi bem recebida por membros da Igreja Católica e autoridades de combate à aids de todo o mundo. Embora a proibição da Igreja Católica Romana à contracepção artificial não esteja em questão, a declaração do Pontífice pode relançar o debate sobre o assunto.

A agência da ONU contra a aids, a Unaids, elogiou os comentários do Papa, mas alertou que esse foi apenas o primeiro passo na direção de tornar o uso da camisinha aceitável entre os católicos. "Esse é um passo significativo e positivo tomado pelo Vaticano", afirmou o diretor executivo da Unaids, Michel Sidibe, em um comunicado. "A atitude reconhece que o comportamento sexual responsável e o uso de camisinha têm papel importante na prevenção do HIV", disse.

Caroline Nenguke, da Cam­panha de Ação e Tratamento, um grupo de defesa das pessoas portadoras de aids com sede em Cidade do Cabo, África do Sul, considerou as palavras do Papa "um passo na direção certa", mas destacou que a mensagem não foi clara e pode levar a erros de interpretação. "A mensagem mostra que apenas homens que trabalham com prostituição devem usar camisinha e isso pode levar as pessoas que têm relações heterossexuais a pensarem que não podem usá-la", disse.

Shay Cullen, missionário que ajudou crianças vítimas de abuso sexual nas Filipinas, disse que essa foi uma mudança crucial na postura de Bento XVI. "Nós saudamos a mudança de opinião do Papa porque ela é destinada a salvar vidas e proteger as pessoas", afirmou. "Nós vemos aqui um Papa esclarecido colocando sua preocupação com a vida humana como a principal prioridade", acrescentou.

Interpretações

Católicos dos Estados Unidos receberam os comentários do Papa Bento XVI sobre o uso da camisinha como um sinal de que a Igreja estaria entrando no debate moderno sobre o combate à aids. Outros afirmaram que as palavras do Papa dão margem a uma longa polêmica. Houve também quem destacasse que o significado exato do que o Papa disse ainda depende de interpretações.

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