A visão do módulo de pouso lunar em 20 de julho de 1969 foi, segundo o que sabe a humanidade, a primeira vez que um ser vivo viajou a outro corpo celeste para observar o luminoso planeta azul envolto na escuridão aparentemente infinita do espaço.
Mas, antes desse momento, os tripulantes da nave Apollo 11, a caminho da Lua, tinham entrado em contato por rádio com o comando da missão, em Houston, para perguntar sobre um objeto curioso que haviam visto em seu terceiro dia no espaço.
“Vocês têm ideia de onde está o S-IVB em relação a nós?”, indagou o comandante Neil Armstrong, aludindo ao terceiro estágio do foguete Saturn V, que tinha sido descartado no início do percurso.
O controle de missão respondeu cerca de três minutos mais tarde, segundo uma transcrição de rádio da missão da Nasa.
“Apollo 11, Houston”, respondeu o comando. “O S-IVB está a cerca de 6 mil milhas náuticas de vocês agora. Câmbio.” Isso satisfez Armstrong, que disse 12 segundos mais tarde: “Ok. Obrigado.”
Essa troca de palavras, aparentemente inócua, virou uma pedra de toque para entusiastas à procura de óvnis e que acreditam em aliens, e agora, ao que parece, virou notícia falsa.
Buzz Aldrin, 88 anos, o segundo astronauta a pisar sobre a Lua, pensou que a tripulação tivesse visto uma nave espacial extraterrestre naquele momento, e um teste de “detector de mentiras” o comprova. Ou pelo menos é o que diz o tabloide britânico “The Daily Star”.
Não é bem assim.
“Ele nunca disse que viu um óvni”, falou a porta-voz do astronauta Christina Korp, ao “Washington Post” na terça-feira (3). “Essa história foi fabricada para gerar manchetes e é inverídica, no que diz respeito a Buzz Aldrin.” A declaração da porta-voz ecoa o comentário feito por Aldrin no Reddit em 2015, quando disse que o objeto “não era um alien”. O “Daily Star” não respondeu a um pedido de declarações.
A verdade está ali fora. Bastaria o “Daily Star” a procurar.
A história narrada pelo tabloide se concentra sobre uma análise vocal realizada pelo Instituto de Biologia Bioacústica e Saúde Sonar, do Ohio, uma instituição sem fins lucrativos que, segundo sua fundadora Sharry Edwards, desenvolveu um programa capaz de avaliar até que ponto uma pessoa sente confiança em falar sobre um tema e fala a verdade sobre ele.
Edwards disse ao “Washington Post” que utilizou a entrevista que Aldrin deu ao Discovery Science em 2006 para o documentário de televisão “Apollo 11: The Untold Story” para analisar as falas do astronauta.
“Havia algo ali fora que estava suficientemente perto para ser observado, e o que poderia ser?”, Aldrin relatou a respeito do incidente, acrescentando que o tripulante Michael Collins viu elipses no objeto em forma de L quando visto através de telescópio. “Isso não nos revelou grande coisa.”
Aldrin disse ainda que o momento exigia moderação, e não uma corrida para tecer teorias sobre o que poderia ser o objeto, durante uma das missões mais estreitamente observadas da história humana.
“Alguém poderia ter exigido que voltássemos devido a aliens ou ao que quer que fosse”, ele disse no programa. Ainda segundo Aldrin, a tripulação decidiu seguir adiante com a missão e mencionar o objeto visto ao apresentar seu relatório, mais tarde, no comando da missão.
Em uma análise, Edwards diz que Aldrin “acredita firmemente no que viu, mas tem consciência lógica de que não tem como explicar o que viu; por essa razão, pensa que as pessoas devem duvidar dele”.
Ela disse que a conclusão foi levada a público anos atrás e que não sabe por que ela se tornou relevante de repente, agora.
Esclarecimento
Buzz Aldrin já esclareceu sua posição sobre o incidente.
Em resposta postada no site da Nasa após o lançamento do documentário, Aldrin disse que acredita que viu um dos quatro painéis que se separaram do S-IVB seguindo a mesma trajetória em direção à Lua, mas em um percurso ligeiramente diferentes. Essa discussão foi cortada, e o resto “foi tirado de contexto”, segundo a Nasa.
Na discussão de 2015 no Reddit, Aldrin disse que a luz solar deve ter se refletido de um dos painéis.
O historiador chefe da Nasa, Bill Barry, disse ao “Washington Post” que a história recorrente sobre um óvni se deve em parte ao fato de o público ter distorcido o termo científico óvni (objeto voador não identificado) para designar uma nave “com homenzinhos verdes”.
Mas a missão Apollo 11 já foi um momento significativo na história humana, mesmo sem o detalhe adicional de uma possível nave extraterrestre.
A idade média dos americanos é 38 anos, ou 11 anos menos que a idade da missão Apollo 11. A maioria das pessoas vivas nos EUA hoje não estava presente em 1961 para ouvir o presidente John F. Kennedy dizer que os Estados Unidos enviariam um homem à Lua e o trariam de volta à Terra em segurança.
A União Soviética já tinha sido a primeira a enviar um homem em órbita terrestre, frustrando a Nasa e suscitando a ideia de que a URSS poderia estar na dianteira. Os trunfos em jogo eram enormes. “Basicamente, estavam em pé de guerra”, disse Barry, falando da liderança da Nasa.
As lições que a Nasa aprendeu com a missão foram extensas. Por exemplo, os líderes aprimoraram a organização para adequá-la para projetos científicos grandes, e ela mais tarde ajudou a desenvolver a Estação Espacial Internacional, disse Barry. E os investimentos em ciência abriram caminho para tudo, desde a internet até os celulares.
As descobertas feitas também trouxeram mais pistas sobre a origem da vida na Terra e a história do universo. A avaliação das amostras de rochas da Lua ajudaram a confirmar as teorias segundo as quais esse corpo celeste é fruto de um objeto que se chocou contra a Terra e mais tarde se fundiu para formar nosso satélite.
Barry acrescentou que essa lição era um refrão comum entre os astronautas: “Deixamos a Terra para trás e o que descobrimos foi nós mesmos”.
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Barry disse que nos próximos cinco séculos a humanidade vai recordar o século 20 por três coisas: duas guerras mundiais e o pouso americano sobre a Lua.
Buzz Aldrin sabidamente já defendeu essa história, agora e no passado.
Em 2002 o diretor de cinema Bart Sibrel confrontou Aldrin, pedindo que ele jurasse com a mão sobre uma Bíblia que o pouso sobre a Lua tinha sido autêntico. Sibrel o chamou de “covarde e mentiroso”.
Sibrel estava acrescentando “ladrão” quando Aldrin lhe deu um soco no rosto. Ninguém prestou queixa à polícia.
O momento foi captado em vídeo. Não houve truques da câmera. O soco foi real.
FIM.
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