A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen (à direita), e o chefe de governo da Groenlândia, Mute B. Egede (à esquerda), em foto de 2021| Foto: EFE/EPA/MADS CLAUS RASMUSSEN
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O primeiro-ministro da Groenlândia, Múte B. Egede, defendeu nesta sexta-feira (10) as aspirações de independência do território autônomo dinamarquês e a necessidade de renegociar a relação com a Dinamarca, ao mesmo tempo em que rejeitou a adesão aos Estados Unidos, uma ideia apresentada novamente nesta semana pelo presidente eleito Donald Trump.

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"O futuro da Groenlândia será decidido pela Groenlândia. Esse é o ponto de partida para toda a cooperação que temos. Não queremos ser dinamarqueses ou americanos. Queremos ser groenlandeses", disse Egede em entrevista coletiva conjunta com a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, em Copenhague.

Egede enfatizou que manter a chamada Comunidade do Reino da Dinamarca - que inclui Dinamarca, Groenlândia e Ilhas Faroe - em seu status atual "não é uma possibilidade" e que a Groenlândia "está a caminho de uma nova era", embora tenha lembrado as muitas coisas que os "unem" e se recusado a eliminar completamente os "laços" com Copenhague.

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O líder da Groenlândia não quis definir uma data para um hipotético referendo sobre a independência, embora tenha lembrado que essa possibilidade está incluída no novo Estatuto de Autogoverno que entrou em vigor em 2009.

Egede também falou sobre as "frustrações" e a "falta de igualdade" nas relações com a Dinamarca.

"Quando eu falo com o líder de outro país, tem que ser junto com o embaixador dinamarquês. Essas são as coisas em que queremos ter nossa própria voz. Acho que isso é legítimo", declarou.

O acordo alcançado com Copenhague para que a Groenlândia escolha o embaixador no Conselho do Ártico é um passo à frente, admitiu Egede, assim como as negociações sobre outras disputas, embora ele tenha lamentado que as soluções demorem "tanto tempo".

Egede descreveu novamente como "sérias" as recentes declarações de Trump, com quem não tem tido contato, de que não descarta o uso da força ou de sanções econômicas contra a Dinamarca para tomar a Groenlândia, visitada por algumas horas na terça-feira (7) por seu filho mais velho, Donald Trump Jr.

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"Cooperamos com os americanos ontem, hoje e continuaremos a fazê-lo", analisou Egede, que mostrou o interesse da Groenlândia em aumentar a cooperação econômica em questões como a extração dos ricos recursos minerais do subsolo dessa ilha ártica de quase 2,2 milhões de quilômetros quadrados e cerca de 56 mil habitantes.

Independência, uma aspiração "legítima" dos groenlandeses

Frederiksen expressou seu respeito pelo "forte desejo de muitos groenlandeses de avançar rumo à independência", que ela descreveu como "legítimo".

"É uma decisão que começa e termina em Nuuk, na Groenlândia. A Groenlândia pertence aos groenlandeses, não a qualquer outra pessoa", disse ela.

A primeira-ministra dinamarquesa defendeu a comunidade dos três territórios, mas também a necessidade de que essa relação evolua e se renove.

"Estamos pesquisando em conjunto como fazer isso de uma boa maneira. Não sabemos exatamente como redefinir a parceria, mas concordamos em seguir esse caminho para uma parceria ainda mais igualitária. O mais importante é ter mais espaço de manobra na política externa, e isso é algo que estamos analisando", contou.

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Frederiksen admitiu que a Dinamarca precisa fazer melhor para "confrontar seu passado" e falou de episódios "sombrios" em seu relacionamento com a ex-colônia.

Ela também lembrou que os Estados Unidos são seu aliado "mais próximo" e disse que faria "todo o possível" para manter a cooperação, ao mesmo tempo em que considerou "positivo" o interesse crescente de Washington pela ilha.

A aparição de Frederiksen e Egede ocorreu no final da cúpula semestral dos chefes de governo dos três territórios que compõem o Reino da Dinamarca.