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O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em evento de campanha em Chennai, sul da Índia, no último dia 9
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em evento de campanha em Chennai, sul da Índia, no último dia 9| Foto: EFE/EPA/Ragul Krishnan

Nesta sexta-feira (19), a Índia, que no ano passado se tornou o país mais populoso do mundo, inicia suas eleições gerais. O pleito será realizado em sete fases e os resultados serão anunciados apenas no início de junho.

O atual primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que está no poder desde 2014, tenta garantir seu terceiro mandato e assim consolidar o modelo autocrático que vem implantando no país. Todas as pesquisas apontam vantagem da sua coligação para manter o controle da Lok Sabha, a câmara baixa do parlamento da Índia.

A autocracia de Modi, com cores nacionalistas, parte do princípio da supremacia hindu sobre praticantes de outras religiões: desde que chegou ao poder, ele fez vista grossa ou até estimulou a perseguição às minorias cristã e muçulmana da Índia, acuadas por violência e por leis que cerceiam sua fé.

Em 2002, quando Modi ainda era ministro-chefe (equivalente a governador) no estado de Gujarat, tumultos resultaram na morte de mais de mil pessoas, a maioria delas muçulmanas.

Três anos depois, os Estados Unidos proibiram a entrada dele no país devido a violações à liberdade religiosa em Gujarat, veto que foi derrubado quando Modi se tornou primeiro-ministro da Índia.

Ao chegar ao cargo máximo do Executivo indiano, ele utilizou agências federais para processar e prender vozes críticas e membros da oposição (incluindo ministros-chefes), obrigou redes sociais a apagar perfis e posts e perseguiu a imprensa.

Em junho do ano passado, pouco antes de uma viagem de Modi aos Estados Unidos, o Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ) denunciou uma onda de repressão contra meios de comunicação que ousavam publicar a verdade sobre o premiê.

“Jornalistas críticos ao governo e ao partido BJP [legenda de Modi] foram presos, assediados e vigiados em retaliação pelo seu trabalho”, informou o CPJ.

Para justificar essa perseguição, Modi utiliza mecanismos como investigações tributárias sobre empresas de comunicação, justificativa, por exemplo, para uma operação em fevereiro do ano passado nos escritórios da BBC em Nova Déli e Mumbai, depois do seu governo ter censurado um documentário da emissora britânica sobre o primeiro-ministro.

Ainda segundo o CPJ, correspondentes estrangeiros tiveram o acesso a várias regiões da Índia restringido pelo governo e sofrem ameaças de deportação.

Além dessa repressão, Modi tem dificuldades para traduzir o expressivo crescimento econômico indiano – o PIB do país cresceu 7,8% em 2023, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) – em empregos de qualidade, especialmente para os mais jovens.

De acordo com o Centro de Monitoramento da Economia Indiana, a taxa de desemprego entre a população jovem foi de 45,4% no ano passado.

Porém, para especialistas, Modi segue vencendo eleições porque sabe explorar o sentimento nacionalista de grande parte da população, habilidade que amplifica com uma hábil estratégia de comunicação voltada para os meios digitais.

“No topo do sistema está Modi, cuja comunicação é cuidadosamente pensada, quase sempre positiva, e sempre planejada para demonstrar que Modi e a Índia são indistinguíveis”, disse Joyojeet Pal, especialista em uso político das mídias sociais na Universidade de Michigan, ao jornal americano The New York Times.

Salvo alguma surpresa improvável na eleição que começa nesta sexta-feira, o reinado autoritário de Modi não deve acabar tão cedo.

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