O líder da oposição russa Alexey Navalny afirmou, nesta quarta-feira (26), que foi instaurado mais um processo-crime contra ele, desta vez por terrorismo, e que ele será julgado por um tribunal militar. A pena pode levá-lo à prisão perpétua ou até 35 anos de cárcere privado.
"O investigador Roman Vidyukov disse na véspera que foi aberto um caso de terrorismo porque eu, enquanto estava na prisão, cometi ataques terroristas. E, neste caso, serei julgado separadamente por um tribunal militar", disse Navalny por videoconferência em uma audiência judicial em Basmanny, em Moscou.
Durante a audiência, o tribunal avaliava um pedido da investigação para impedir que Navalny, que cumpre oito anos de prisão, se familiarizasse com o processo penal contra ele por extremismo.
"Estou enfrentando 30 anos neste caso, provavelmente prisão perpétua no próximo", afirmou. Navalny foi citado por sua equipe no Telegram, indicando também que o juiz expulsou os meios de comunicação da sala.
De acordo com sua equipe, o caso por terrorismo está separado do de extremismo, que foi instaurado contra os colaboradores e o chefe do Fundo de Luta Contra a Corrupção (FBK, pela sigla em russo), considerado ilegal pela Justiça. Segundo explicou a equipe de Navalny no Telegram, a causa está relacionada com as palavras do opositor exilado Leonid Volkov, muito próximo de Navalny, que afirmou em um programa de TV que o presidente russo Vladimir Putin “deveria ser julgado como terrorista”.
"O que isso tem a ver com outros do FBK ou com Navalny? Sim, nada", escreveu sua equipe, que não descarta que a investigação inclua também o assassinato do blogueiro militar Vladlen Tatarsky ocorrido no início do mês, crime pelo qual o aparato estatal acusa indiretamente o FBK.
Morte de Tatarsky
O Comitê Nacional Antiterrorista atribuiu o atentado aos serviços secretos ucranianos, que teriam utilizado, para o ataque, pessoas próximas do FBK de Navalny. Essas pessoas teriam incitado a principal suspeita, Daria Trepova, a cometer o crime pelo qual está detida.
Segundo os colaboradores do líder opositor russo, que negaram veementemente qualquer vínculo com o atentado mortal em uma cafeteria de São Petersburgo, seu chefe pode ser condenado a até 35 anos por este caso de terrorismo. "Não está claro de que forma se desenvolverá este episódio. Apelo [para cometer o crime], incitação ou organização: não temos ideia [de qual será a acusação]", escreveram no Telegram.
Caso de extremismo
Navalny, por sua vez, denunciou na audiência que o caso de extremismo consiste em 195 volumes, "e não me deixam tomar conhecimento" de seu conteúdo. Ele enfatizou que não pode acessar os materiais da acusação porque está trabalhando na prisão ou em celas de isolamento.
Neste caso por extremismo, 11 pessoas se encontram na lista internacional de busca e captura, afirmou um investigador na audiência, segundo a agência de notícias russa RIA Novosti. Vários aliados do opositor se encontram no exílio, mas foram adicionados pela Rússia aos registros de terroristas e extremistas por sua colaboração com o FBK e outras fundações de Navalny, bem como com sua rede de escritórios. Todas foram declaradas organizações extremistas e proibidas pela Justiça russa.
A juíza Evguenia Nikolayeva atendeu ao pedido da investigação para restringir o tempo para que Navalny possa se familiarizar com o caso, de modo que o líder da oposição só tem até 5 de maio para ler 195 volumes.
Histórico
Navalny tem vários processos abertos contra ele. Seu advogado Vadim Kobzev indicou que se trata de acusações de extremismo, incitação ao terrorismo e reabilitação do nazismo.
Alguns opositores apontam que Alexey Navalny, que criticou a chamada "operação militar especial" (como a Rússia chama a invasão à Ucrânia), não verá a luz do dia enquanto Putin permanecer no poder.
Recentemente, também, sua equipe expressou o temor de que Navalny esteja sendo envenenado, já que ele perdeu oito quilos.