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Análise

Navegar entre velhas desfeitas e novos desafios divide Cuba

Ativistas anti-Castro protestam em Little Havana, Miami | Javier Galeano/Reuters
Ativistas anti-Castro protestam em Little Havana, Miami (Foto: Javier Galeano/Reuters)

Alan Gross era o obstáculo que não se movia — o empreiteiro americano cujo encarceramento em Cuba mantinha as relações entre os dois países travadas, paralisadas. Agora o obstáculo foi removido e as engrenagens enferrujadas da Guerra Fria começam a se mexer.

A libertação de Gross na quarta-feira (17), junto com a de três cubanos, nos EUA, acusados de espionagem, marca o rompimento de mais de 50 anos de desconfiança, raiva e inércia. Embora tanto o presidente Obama como o presidente cubano Raúl Castro venham a encontrar suas próprias maneiras de descrever os acontecimentos, está claro que ambos aproveitaram a oportunidade para buscar uma forma de reconciliação.

Os prisioneiros eram uma reclamação comum em Washington e Havana que favorecia o status quo entre as duas nações. Mas Obama e Raúl viraram-se contra os linha-duras ao se engajarem na libertação simultânea desses que foram usados, várias vezes, pelos críticos que defendiam a distância e a inimizade, e se favoreciam delas.

Os dois líderes têm agora conquistas para apontar — e concessões para explicar. Mas os passos que deram e as mudanças políticas que a Casa Branca anunciou ontem têm o potencial de transformar as relações entre EUA e Cuba, talvez de uma forma não vista desde que um rebelde chamado Fidel desceu das montanhas cubanas.

Não será uma tarefa fácil. Na prática, as possibilidades políticas abertas por Obama ainda são relativamente limitadas. Especialistas lembram que o presidente não pode simplesmente determinar o fim do embargo econômico contra Cuba, mas pode trabalhar pelas bordas.

As mudanças que Obama anunciou incluem alterações na quantia que americanos poderão enviar para Cuba, de U$ 500 para US$ 2.000 trimestrais, ampliações nas formas pelas quais os americanos podem viajar para Cuba, incluindo aquelas para "apoiar o povo cubano", e permitir que bens e provisões vendidos para cubanos possam ajudar a expandir o número de pequenas e médias iniciativas privadas no país.

Obama anunciou, também, um aumento de produtos de tecnologia da informação vendidos a Cuba, com o objetivo de ajudar o povo cubano a "comunicar-se livremente". Cuba, por sua vez, vai ficar sob intensa pressão para permitir que exista mais liberdade de expressão, para libertar dissidentes locais e permitir o livre acesso à informação e à tecnologia — uma das maiores demandas da população jovem da ilha. Na visão desse grupo, se Cuba e EUA não são mais inimigos, então a lógica do governo local de limitar a informação para proteger o país do intruso americano começa a não fazer mais sentido.

Esses velhos hábitos, claro, não serão fáceis de modificar. O olhar através do qual Cuba sempre viu os EUA envolve a soberania. Os cubanos são criados para se orgulhar da habilidade do seu país em enfrentar os EUA e a história da ilha está repleta de exemplos de heróis locais que lutaram contra forças estrangeiras.

Uma medida importante que poderia ajudar a retomar esse relacionamento envolve a remoção de Cuba pelos EUA da lista de Estados que dão suporte ao terrorismo. Mas independentemente do que venha a seguir, os próximos meses e anos de discussões entre Cuba e autoridades americanas serão em torno de obstáculos de conflitos passados.

Libertar Gross e os prisioneiros cubanos abre espaço para conversas e para a diplomacia, terapias para melhorar as relações. Mas navegar entre velhas desfeitas e novos desafios vai requerer uma habilidade que nenhum líder dos dois países exibiu ao longo destas décadas de relações confusas e intensas.

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