Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Engenharia

Navios de cruzeiro têm desafio de unir grandeza e segurança

Quando foi lançado, em 2006, o Costa Concordia era o maior navio do mundo e seus idealizadores queriam que simbolizasse “a paz e harmonia entre as nações europeias” | Stringer/Reuters
Quando foi lançado, em 2006, o Costa Concordia era o maior navio do mundo e seus idealizadores queriam que simbolizasse “a paz e harmonia entre as nações europeias” (Foto: Stringer/Reuters)

Navios como Costa Concordia, naufragado na sexta-feira 13, chamam atenção pela suntuosidade. Eles transportam pequenas cidades com piscinas, restaurantes, teatros e spas. O acidente do cruzeiro italiano – assim como aconteceu com o Titanic em 1912 – sustenta dúvidas sobre a segurança dos transatlânticos que au­­mentaram de tamanho ao longo do último século. Há um limite para as dimensões das embarcações não se tornarem perigosas? "O navio não é construído ao acaso. Os projetos são analisados por sociedades classificadoras. Tudo é fiscalizado. Se não, não conseguem nem fazer seguro quando estiver pronto", diz Rui Carlos Bot­­ter, doutor em Enge­­nharia Naval da Universidade de São Paulo (USP).

Com 46 anos de experiência em construção naval, o engenheiro mecânico Carlos Frederico Tei­­xeira considera que não há uma correlação entre a dimensão do navio e o os riscos. "Se alguém re­­solvesse construir um navio de 600 metros de comprimento, poderia construir", explica o professor do curso de Construção Naval da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). No entanto, há uma limitação. "Existe certa di­­mensão que entra nos portos. Não pode fazer um navio que vai ficar gigantesco e depois não conseguir operar", diz.

Na semana passada, o jornal britânico The Guardian publicou uma entrevista com o diretor de comunicação da Nautilus Interna­­cional, uma associação internacional de profissionais navais. Segundo o jornal, Andrew Lining­­ton afirma que projetos de grandes navios, como o Costa Concor­­dia, partem de navios menores. As medidas são extrapoladas: as laterais ficam muito altas, en­­quanto o calado – parte que fica submersa na água – fica muito pequeno. "São difíceis de manobrar em ventos fortes", explica Linington.

Por sua vez, Rui Carlos Botter diz que o vento forte pode ter in­­fluenciado no acidente que o Cos­­ta Concordia teve em 2008, quando bateu no cais do porto de Paler­­mo, na Itália, durante uma tempestade. Porém, naquela situação, não houve complicações maio­­res, apesar de uma fenda na proa e no flanco (que não influenciou o acidente deste ano).

O professor da USP avalia que as investigações devem apurar se o vento também influenciou ou não o desastre do último dia 13, mas o mais importante é saber por que o navio estava lá. "O projeto é seguro, só em condições mui­­to adversas pode haver problemas. Pode até ter ocorrido uma rajada de vento nesse acidente, mas, se ele estivesse no lugar certo, não seria afetado".

Ainda que atribua acidentes como o que ocorreu com o Costa Concordia muito mais a fatalidades e a falhas humanas do que ao tamanho das embarcações, Tei­­xeira lembra que um navio maior requer mais habilidade e ecoa a afirmação de Linington, no Guar­­dian. "É muito mais difícil manobrar um navio de 400 metros do que um de 50", afirma.

Os especialistas em Engenharia Naval dizem que não faltam aparelhos de navegação que acompanhem o grau de evolução tecnológica e o tamanho dos transatlânticos. "O que está havendo é um descompasso entre a ação humana e o automatismo. Hoje existem diversas ferramentas que conseguem posicionar o navio. Os co­­mandantes começam a confiar demais, ou interpretam mal e acham que estão em um lugar onde não estão", diz Teixeira.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.