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Pelo menos cinco navios petroleiros iranianos carregados com combustível estão a caminho da Venezuela para socorrer o país latino-americano, que passa por uma grave escassez de gasolina. O caso desencadeou novas tensões entre Teerã e Washington.
Os setores de petróleo do Irã e da Venezuela, ambos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), sofrem com sanções impostas pelos Estados Unidos. Os dois países mantém relações estreitas desde o governo de Hugo Chávez.
Os navios estariam transportando gasolina e produtos relacionados no valor de pelo menos US$ 45,5 milhões, parte de um acordo entre Teerã e Caracas que totaliza US$ 900 milhões, pagos com ouro da Venezuela ao Irã, segundo a imprensa internacional.
O ditador venezuelano Nicolás Maduro teria recorrido ao Irã para o envio dos produtos, necessários para a operação das desgastadas refinarias da Venezuela.
O Irã teria interesse no negócio não só pelos recursos para financiar a sua teocracia, mas também para provocar os Estados Unidos, entrando na área de influência do seu rival geopolítico.
O governo interino de Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino da Venezuela por dezenas de países, alegou na segunda-feira que a chegada dos navios iranianos era ilegal e pediu ajuda à comunidade internacional para impedir que isso aconteça.
Gustavo Marcano, ministro conselheiro do governo interino na Embaixada da Venezuela nos EUA, disse que o ingresso dos navios do Irã no território venezuelano "não está autorizado pela Assembleia Nacional", em referência ao parlamento de maioria oposicionista liderado por Guaidó. "É ilegal e faz parte das operações narcoterroristas de Maduro", acusou Marcano.
Os Estados Unidos monitoram com preocupação o envio iraniano ao país latino. O chefe do Comando Sul norte-americano, Craig Faller, falou em videoconferência na segunda-feira sobre o aumento da cooperação entre as nações persa e latino-americana.
"O Irã apoiou ataques territoriais neste hemisfério. Qual é o interesse do Irã na Venezuela? Eles não estão conseguindo controlar os seus próprios problemas com a Covid-19. Penso que estão fazendo isso para ganhar parte do território de nossos vizinhos e estamos acompanhando isso de perto com nossos aliados", afirmou Faller.
"Estamos vendo como eles apoiam cada vez mais Maduro", disse ainda o almirante, lembrando que o regime iraniano "apoia a maior área do terrorismo no Oriente Médio", com grupos aliados em países como o Iêmen e Líbano.
Os Estados Unidos avaliam medidas contra Irã e Venezuela em resposta ao envio dos navios petroleiros, uma autoridade do alto escalão do governo Trump disse à agência Reuters, sem detalhar quais seriam essas medidas.
No domingo, o Irã fez uma reclamação à Organização das Nações Unidas (ONU) e convocou o embaixador da Suíça no país, que representa os interesses dos EUA, para tratar das potenciais medidas de Washington.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Javad Zarif, escreveu para o secretário da ONU, António Guterres, que o país "reserva o seu direito de tomar todas as medidas apropriadas e necessárias e ação decisiva [...] para garantir seus direitos e interesses legítimos contra tais políticas de bullying e práticas ilegais", em referência a possíveis ameaças dos EUA aos petroleiros iranianos.
Dona das maiores reservas de petróleo do mundo, a Venezuela enfrenta severa escassez de gasolina. A sua empresa estatal de petróleo, a PDVSA, perdeu grande parte de sua capacidade de produção, após anos de má administração e falta de investimentos dos regimes chavistas, em meio a profunda crise política, social e econômica que assola o país.