• Carregando...

Com o prazo final imposto pelo presidente deposto Manuel Zelaya expirado em mais de 12 horas, negociadores das duas facções rivais de Honduras passaram a sexta-feira sem revelar o resultado do diálogo de Guaymuras. Sob pressão do lado golpista, zelaystas apelaram para o futebol para tentar emplacar a restituição - tema que trava a negociação desde terça-feira. Num gesto altamente simbólico, o capitão da seleção hondurenha, Amado Guevara, enviou uma camisa autografada a Pichu, filha de Zelaya, para que ela a entregasse ao presidente deposto na embaixada brasileira.

Após 27 anos, Honduras classificou-se na quarta-feira para a Copa de 2010, vitória que levou o presidente de facto Roberto Micheletti a decretar feriado nacional. "Espero que esse gesto dê força ao acordo e desejamos que o nosso presidente legítimo retorne imediatamente ao cargo", disse Flor Guevara, mãe do novo herói nacional. Foi ela quem deu a camisa a Pichu, diante de dezenas de jornalistas que acompanhavam as negociações. Embaixo do brasão, lia-se a dedicatória: "Para o senhor presidente, de seu amigo Amado." "Confio em Deus e no povo. Vamos restituir o presidente Zelaya ao cargo", disse Pichu.

Micheletti tentou usar a vitória no futebol para aliviar a tensão dos 112 dias de crise, entre episódios de violência e tentativas fracassadas de diálogo. O desfile dos jogadores por Tegucigalpa terminou na Casa Presidencial e o líder de facto recebeu a seleção com lágrima nos olhos. Veículos da imprensa que apoiam o governo de facto acusaram zelaystas de boicotar a seleção. O gesto de Guevara, no entanto, foi uma afronta aberta à estratégia do regime de Micheletti.

Na quinta-feira à meia-noite - prazo que havia sido estipulado pelo presidente deposto - o negociador zelaysta Víctor Meza dissera à imprensa que o governo de facto apresentaria hoje até as 12 horas uma "oferta definitiva". Caberia então aos golpistas a proposta final sobre a restituição de Zelaya. O limite, entretanto, foi ainda ampliado em mais três horas.

Os dois lados reúnem-se a portas fechadas há uma semana para negociar os 12 pontos estipulados pela Proposta de San José. Elaborado pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, o documento serve de base para o diálogo.

Todos os temas do pacto já teriam sido acertados, com exceção do principal deles: a volta de Zelaya, derrubado por militares em 28 de junho, ao poder. O ponto de inflexão agora seria a instância a que deve ser submetida a restituição. De um lado, golpistas querem que a Suprema Corte, que determinou a destituição de Zelaya, decida o tema. Do outro, zelaystas querem que a palavra final fique a cargo do Congresso.

Sob a tensão das negociações, Zelaya foi dormir às 4 horas. Acordou às 10 horas e permaneceu trancado em seu quarto. Pela primeira vez nas três semanas de confinamento, a mulher do presidente deposto, Xiomara, e sua filha Zoe fizeram o cabelo, maquiaram-se e vestiram roupas formais.

Do lado de fora da embaixada, hondurenhos já pareciam ter desistido de acompanhar o vaivém da crise política, mas seguiam impacientes por uma solução. "Queremos paz e estamos cansados de tudo isso. Pouco me importa se é Zelaya ou Micheletti. O importante é acabar com a indefinição", admitiu o vendedor de sanduíches Neri Funes.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]