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O Exército de Libertação Nacional (ELN) da Colômbia disse acreditar que as negociações de paz com o governo do novo presidente colombiano, o esquerdista Gustavo Petro, podem começar em questão de “semanas”. Em entrevista exclusiva, o negociador do ELN, Israel Ramírez Pineda, também conhecido como “Pablo Beltrán”, explicou que ambas as partes se preparam para iniciar o diálogo. “Penso que [em questão de] semanas”, disse um dos principais líderes do maior grupo guerrilheiro ativo da Colômbia após a desmobilização das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) com o acordo de paz de 2016.
“Estamos em um processo de retomada das conversas”, disse Beltrán, acrescentando que, enquanto o governo colombiano “está montando equipes de negociação”, o ELN está “no processo de avaliação do período que está sendo encerrado e também de refazer a delegação do diálogo”. “Estamos em momentos semelhantes. Uma vez isso concluído, haverá uma primeira reunião”, acrescentou.
Beltrán também considerou provável que seja mantido o modelo de “locais rotativos” com os quais estas conversas começaram em 2017, de modo que, mesmo que o diálogo comece em Havana, possa posteriormente se mudar para outro país. O negociador garantiu que “as ofertas de acompanhamento e assistência” de Chile e Espanha são bem-vindas e serão analisadas, e frisou que tanto o governo colombiano como o ELN vão estudar “como lidar com este apoio”.
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A vitória eleitoral de Petro, ele mesmo um ex-guerrilheiro do M-19, reanimou as conversas de paz do governo colombiano com o ELN, suspensas em 2019 pelo seu antecessor, Iván Duque, devido ao ataque do grupo armado à Escola de Cadetes em Bogotá, que matou 22 pessoas e feriu 68. Em agosto, o novo governo colombiano e o ELN anunciaram o reinício das negociações de paz em Cuba, após uma reunião em Havana.
Guerrilha critica EUA por classificar Cuba como “patrocinadora de terrorismo”
Beltrán disse considerar um “atropelo” o fato de os Estados Unidos incluírem Cuba na lista de países patrocinadores do terrorismo internacional por acolher seus representantes nas negociações de paz com o governo da Colômbia. “É um duplo escândalo. Porque Cuba defendeu o protocolo que assinamos com o Estado colombiano com cinco países como testemunhas”, disse o integrante do ELN.
Na opinião do negociador, é um “precedente desastroso” uma nação ser “perseguida” e sofrer represálias “por defender um acordo internacional” e cumprir o “direito internacional”. “Para nós, o fato de Cuba manter a sua política estatal de apoio à paz na Colômbia é um exemplo e estamos gratos por isso”, disse Beltrán, que vive na ilha caribenha há cinco anos.
O líder da guerrilha assegurou que o ELN aprendeu com esta decisão da gestão do presidente americano republicano Donald Trump, que o seu sucessor, o democrata Joe Biden, não reverteu. Depois da posse de Petro na presidência da Colômbia, em agosto, o ministro das Relações Exteriores colombiano, Álvaro Leyva, também repudiou a designação de Cuba como país patrocinador do terrorismo.