Negociadores do governo de facto e do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, começaram a discutir nesta quarta-feira a eventual restituição do governante ao poder. Zelaya via as negociações com ceticismo e duvidava que a crise política que divide o país pudesse ser superada.
Mas no primeiro sinal de flexibilidade na posição do governo de facto, as partes em conflito reconheceram na terça-feira que avançaram 90 por cento sobre o Acordo de San José, uma proposta do presidente costarriquenho Oscar Arias, que girava em torno da devolução do poder ao líder deposto.
Zelaya foi expulso de seu país sob a mira de fuzil por militares no dia 28 de junho por causa de sua intenção de fazer uma consulta popular que abriria caminho para a reeleição presidencial, segundo detratores, influenciado pelo aliado venezuelano Hugo Chávez.
"Hoje colocaremos sobre a mesa de negociações as posições ao redor do tema da restituição ou não do ex-presidente Zelaya. Nesse diálogo consideraremos tanto os aspectos políticos como os legais", disse Vilma Morales, representante do presidente de facto, Roberto Micheletti, à emissora de rádio HRN.
Mas Zelaya disse na terça-feira à Reuters que estava cético sobre os resultados da reunião crucial. E, apesar do aparente avanço do diálogo, revelou que enviou cartas a governantes do continente, entre eles ao norte-americano Barack Obama, para que aumentem a pressão sobre os que o derrubaram.
"Estou confiante no diálogo, mas desconfiado ante o regime de facto", disse Zelaya por telefone da Embaixada do Brasil, onde se encontra refugiado desde que voltou clandestinamente ao país centro-americano em 21 de setembro. Desde então a embaixada está cercada por policiais e militares com ordens para prendê-lo.
Micheletti disse que Zelaya deve prestar contas à Justiça por violar a Constituição ao insistir em realizar a consulta apesar de ter sido proibido por um juiz.
Ainda é preciso ver se a restituição será aceita por Micheletti, que assegurou que está disposto a renunciar se o governante deposto desistir de sua intenção de voltar à Presidência.
"Estamos esperando a resposta deles (sobre a restituição) e trabalharemos nisso hoje", disse Myrna Mejía, negociadora de Zelaya.
"Ao encontrar uma resposta positiva temos de identificar qual é o canal, quais são os mecanismos, porque estamos certos de que não é algo automático, não é algo que poderá ser feito da noite para o dia", acrescentou.