A eleição presidencial na Colômbia será realizada hoje, mas tanto a população como os candidatos já estão de olho mesmo é no dia 15 de junho, data para a qual está marcado o segundo turno do pleito. Isso porque as últimas pesquisas apontam uma disputa acirrada entre o atual presidente, Juan Manuel Santos, e o candidato oposicionista Oscar Iván Zuluaga. Com uma economia estável e bons índices de crescimento ao longo do último ciclo presidencial, o ingrediente principal da campanha deste ano foi a negociação de paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para pôr fim a um conflito iniciado há meio século.
De um lado, Santos defende o diálogo com a guerrilha e aposta no resultado econômico de um desfecho positivo. De outro, Zuluaga é favorável a uma solução militar e o endurecimento do combate à guerrilha por parte das forças governistas.
Santos, que busca a reeleição pelo Partido de La U, chegou ao poder em 2010 após anos no Ministério da Defesa durante a administração de Álvaro Uribe, período em que o governo usou de artilharia pesada para conter os avanços da guerrilha. Eleito presidente, usou de sua experiência no setor de segurança e entendeu que, mais do que qualquer outro assunto, a paz com as Farc era uma necessidade urgente do povo colombiano, que convive há mais de cinco décadas com os violentos conflitos.
"Santos soube conduzir o enfrentamento com as Farc de uma maneira bastante eficaz e adotou a tática da negociação pela paz para atrair a sociedade", afirma o professor de Ciência Política da Universidade de São Paulo Alberto Pfeifer. Esse sentimento de que a paz, finalmente, era possível impulsionou o assunto para o debate principal entre todos os presidenciáveis, dividindo as candidaturas entre os que propõem uma negociação com os rebeldes e os que defendem o uso da força, transformando o pleito em um referendo pela paz no país.
Além de Santos, Clara López, ex-prefeita de Bogotá e candidata da corrente esquerdista Polo Democrático, e Enrique Peñalosa, também ex-prefeito da capital e candidato pela Aliança Verde, apostam nas negociações para atrair os eleitores colombianos. Em contrapartida, Marta Lucía Ramírez, do Partido Conservador, junta-se à Oscar Iván Zuluaga, candidato do Centro Democrático, o novo partido criado pelo ex-presidente Uribe, na defesa do endurecimento das ações contra as Farc.
"Creio que o país está muito polarizado neste momento e, obviamente, temos posições muitos diferentes entre os candidatos Todavia, a eleição se transformou em um processo de aprovação ou não do atual governo e da linha dos últimos anos em relação aos processos de paz", diz a professora de Ciência Política da Universidad de Los Andes Mónica Pachón.
Pesquisa registra empate técnico
Divulgada em 15 de maio, a pesquisa do Cifras y Conceptos mostra o candidato do Centro Democrático, Oscar Iván Zuluaga, com 23,9%, tecnicamente empatado com o atual presidente, Juan Manuel Santos, que tem 27,7%. Na comparação com o levantamento anterior, de abril, o candidato do Centro Democrático cresceu mais do que qualquer outro, subindo cinco pontos porcentuais. Na simulação de segundo turno do instituto, o presidenciável do partido de Uribe também aparece tecnicamente empatado com o atual presidente. O levantamento de outros institutos, como o Datexco e o Gallup, também revelam essa tendência.
"Os candidatos mais atrelados a um discurso duro ganharam um pouco mais de projeção porque há uma parcela da população que, cansada das negociações, tende a escolher esses nomes", disse Pfeifer.
As características do processo eleitoral da Colômbia podem prejudicar Santos no primeiro turno, uma vez que o voto não é obrigatório. E se antes as pesquisas mostravam um grande contingente de pessoas dispostas a votar em branco, hoje este total é de 10%, o que mostra que os que devem comparecer às urnas tomaram posições.
"As intenções de voto em branco vêm se desvanecendo à medida que se aproxima da data das eleições. A cifra final não deve estar muito longe dos níveis históricos, de cerca de 6%. Por outro lado, essa eleição deve manter os níveis históricos de participação do eleitorado", afirmou o economista Luis Carvajal, ex-ministro da Educação no país.Na opinião de analistas, caso o candidato Zuluaga vença o pleito no segundo turno, a esperada paz na Colômbia ficará cada vez mais difícil de se alcançar. "É uma grande mentira achar que a paz se dará independente de quem vença o processo eleitoral. Creio que os processos de paz dependem do presidente Santos, uma vez que a sua estratégia de negociação difere da proposta de Zuluaga, e é claro que isso seria uma situação muito grave", afirmou Mónica Pachón.
"A paz segue sendo o problema mais grave dos colombianos. Se os acordos tiverem êxito, o pós-conflito irá consumir anos de trabalho para a superação dos problemas, incluindo o do narcotráfico, que por anos alimentou o conflito armado. Cedo ou tarde teremos que chegar à paz", enfatizou Carvajal.