O sentimento de orfandade dos sul-africanos ontem, dia do enterro do "pai da nação", Nelson Mandela, foi resumido por seu amigo Ahmed Kathrada, 84, que passou com ele 26 anos preso. "Minha vida agora é um vácuo. Não sei mais a quem recorrer".
Foi de Kathrada, histórico representante dos descendentes de indianos no mosaico do movimento contra o apartheid, o discurso mais emocionante, entre os muitos na longa cerimônia que precedeu o enterro de Mandela na vila de Qunu, terra de seus ancestrais.
No total, foram 3h40 de solenidade numa improvisada tenda montada no lugarejo, quase o dobro do prazo inicialmente previsto. Isso impossibilitou respeitar ao pé da letra a tradição da tribo de Mandela, os thembu, que são parte da etnia xhosa: enterrar um grande líder precisamente ao meio-dia, "quando o sol é mais alto e a sombra, mais curta".
O caixão de Mandela desceu à sepultura, cavada dentro de um pequeno jardim, pouco antes das 13h locais (9h de Brasília). Antes, o corpo foi abençoado uma última vez por um bispo. "Descanse em paz. O seu foi o verdadeiro longo caminho para a liberdade, e agora você alcançou essa liberdade", disse o religioso, referindo-se ao título da autobiografia de Mandela.
Bandeiras
Três helicópteros fizeram então um sobrevoo, cada um com uma bandeira da África do Sul presa numa haste, seguidos por seis caças duas cenas reminiscentes da posse de Mandela como presidente do país, em 1994, fim oficial do apartheid.
Seguiu-se uma salva de 21 tiros de canhão e a TV estatal, única com acesso ao evento, cortou o sinal do momento final da descida do caixão, respeitando o desejo da família. Minutos depois, foi confirmada pelo governo que Mandela, morto no último dia 5, estava enterrado.
Cerca de 4,5 mil pessoas participaram da solenidade e 450 do enterro. O presidente sul-africano, Jacob Zuma, sentou-se na primeira fila, entre Winnie Mandela, ex-mulher do homenageado, e Graça Machel, a viúva.