O Natal e a Sexta-Feira Santa são feriados e as missas podem ser transmitidas pelos meios de comunicação oficiais do governo. Mas um país no qual o Estado leva 55 anos para autorizar a construção de uma nova igreja católica não pode ser considerado exatamente um oásis de liberdade religiosa. Esta é a Cuba que o papa Francisco encontrará ao desembarcar: um regime ditatorial onde a religião ainda é vista como adversária, apesar das pequenas concessões feitas pelos irmãos Castro aos pontífices que visitaram a ilha em ocasiões anteriores, João Paulo II e Bento XVI.
Os Castro, no entanto, têm muito mais motivos para querer agradar Francisco em comparação com os papas predecessores: afinal, Jorge Bergoglio ajudou a intermediar a reconciliação – que, se não é completa, é bem mais abrangente que qualquer coisa que se pudesse imaginar até algum tempo atrás – entre Cuba e os Estados Unidos.
Além disso, o discurso de Francisco tem alguns elementos que podem soar como música para os ouvidos de velhos comunistas como Raúl e Fidel: o papa é crítico contumaz de um liberalismo econômico sem nenhuma face ética, que deixa os mais pobres para trás sem piedade; isso ficou bem claro em textos como a Evangelii Gaudium e a Laudato Si’, e em homilias e discursos como os da viagem recente à América do Sul. São palavras que, a poucos quilômetros dali, nos Estados Unidos, levam não poucos a ver no papa uma simpatia pelo socialismo, mas que na verdade são apenas eco da secular Doutrina Social da Igreja.
Afinal, para que não fique nenhuma dúvida, Francisco é tão ou mais crítico do socialismo que do liberalismo econômico. “A ideologia marxista é equivocada”, disse em uma de suas entrevistas. Quem tentar encaixar o papa em uma caixinha ideológica acabará confuso diante de um simples “filho da Igreja”.
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