A imigração – e todos os problemas advindos dela – foi usada como argumento para o Reino Unido aprovar a saída da União Europeia e tem inflamado a retórica do presidente Donald Trump. O discurso do líder norte-americano é similar ao conservador britânico: os imigrantes estão “mudando a cara” do país.
Curiosamente, EUA e Reino Unido aparecem apenas em 5.° e 6.° lugares no ranking dos países com maior índice de imigrantes entre a população, aponta estudo do Priceonomics baseado nos dados de 2015 da Organização das Nações Unidas (ONU).
O ranking é liderado por Arábia Saudita, Austrália, Canadá e Alemanha. No país asiático, os imigrantes correspondem a pelo menos 32% da população. Austrália, com 28,2%, Canadá, com 21,8%, e Alemanha, com 14,9%, estão na frente dos números de EUA e Reino Unido. Segundo a ONU, o país germânico também foi a segunda nação que mais alterou sua configuração populacional desde 1990.
O percentual nos Estados Unidos não chega a 15%, com evolução de 5,3% em relação a 1990. Já o Reino Unido abriga o quarto maior aumento populacional de imigrantes, com evolução de 6,8%, com 13,2% da população total do reinado identificada como descendente da imigração.
Metade estabilizada
Os dados também mostram que metade dos países não registraram variação ou registraram variação negativa entre 1990 e 2015. Os países que estão nesse escalão “exportador” também apresentam altos índices de desemprego e problemas sociais, salvo economias mais sólidas como a China (sem variação) e Polônia, único país da União Europeia a não entrar em recessão depois da crise econômica de 2008. Os demais países são pobres ou enfrentam graves crises econômicas, como Brasil, Argentina, Venezuela, Uganda, Etiópia e Irã.
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), 4.027 imigrantes ou refugiados morreram de janeiro a julho de 2016 em travessias para outro país. O número é 26% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado.
Apesar dos discursos de ódio, os números dos 50 países mais populosos do mundo em relação à imigração são tímidos: apenas 3,3% das crianças não moram em seus locais de nascimento. Em nove desses países, englobando ainda Espanha, França e Ucrânia, mais de 10% da população é composta por estrangeiros. Em outros 18, o percentual não chega a 1%.
Os maiores aumentos proporcionais de 1990 a 2015 foram registrados na Europa. A Espanha lidera o ranking da ONU, com variação de 10,6% - a única a romper a barreira dos 10%. O país pulou da posição 26 para 7º no ranking. Alemanha, Itália, Reino Unido, Canadá, EUA e Austrália fecham a liderança. Tailândia, Malásia e África do Sul, com mudanças populacionais de 4,8%, 4,5% e 2,6% respectivamente, completam os aumentos proporcionais.
Os Estados Unidos também tentam se adaptar a uma nova realidade. Segundo a pesquisa, cerca de 26% dos residentes estrangeiros vieram do México. Chineses e indianos, na proporção, ocupam o segundo e terceiro lugares na lista de povos que mais entram no país. Nenhum deles é de origem muçulmana.
Líderes
A Arábia Saudita, líder absoluta do ranking, tem um longo histórico de permissão para trabalhadores estrangeiros operar no seu setor de construção civil, mas raramente concede aos imigrantes cidadania plena. Muitos deles são atraídos pela ausência de taxação e pelos salários mais altos do que poderiam receber em suas nações de origem.
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O colapso no preço do petróleo, no entanto, pressiona o governo saudita a contemplar uma revisão radical de sua composição econômica e a criar taxas para os estrangeiros. O país não quer reduzir o número de estrangeiros, já que eles são força vital da construção no país.
Já a Austrália tem uma das maiores taxas mundiais de residentes estrangeiros desde a metade do século 20. Ao longo das últimas décadas, o país tem combinado políticas rigorosas de restrição de imigração não autorizada através de uma política de entrada legal mais ampla. Embora se envolva em um tema político controverso, segundo o Priceonomics a preocupação com a imigração ainda não atingiu o ponto chave na Oceania.
A Alemanha é a líder europeia em asilos entre 2008 e 2014. Apesar de o país conviver com a ascensão de ideias anti-imigração, os principais partidos alemães continuam a ser pró-União Europeia e, consequentemente, pró-imigração. A chanceler alemã Ângela Merkel é uma das porta-vozes dos expatriados na Europa.
Entrada
Em relação aos perfis de entrada, a Arábia Saudita registra maior população de indianos (19%), indonésios (13%) e paquistaneses (11%). Na Austrália, os maiores imigrantes são curiosamente os britânicos, com 19%. Eles são seguidos de neozelandeses (9%) e chineses (7%). O Canadá, em terceiro lugar, recebe muitos chineses (9%), indianos (8%) e também britânicos (8%).
A Espanha, que registra a maior diferença entre 1990 e 2015 anos e que convive com taxas de desemprego superiores a 20%, contabiliza presença maciça de marroquinos (12%), romenos (11%) e equatorianos (7%).
Salto na imigração dos EUA e Reino Unido não passa dos 6%
Segundo a ONU, a movimentação de pessoas de países pobres em direção aos países ricos tem sido um dos padrões de migração. Nos séculos 19 e 20, os imigrantes de países pobres correram para os Estados Unidos por suas oportunidades econômicas. Já no Reino Unido, no início do século 20, cerca de 1% da população havia nascido pobre na Irlanda. De acordo com o Priceonomics, pesquisas sugerem que, no geral, este padrão de imigração é saudável para as economias das duas potências e de outros países com renda histórica acima da média.
O salto na imigração do Reino Unido foi de 6,8%, com entrada proporcional de indianos (9%), poloneses (8%) e paquistaneses (6%). Já os EUA registram aumento de 5,3% de 1990 a 2015.