Curitiba Depois de reinar por 76 anos como um planeta do Sistema Solar, Plutão teve sua classificação rebaixada pela União Astronômica Internacional (UAI) na última quinta-feira. Os astrônomos reunidos em Praga decidiram desqualificar Plutão como planeta porque sua órbita alongada cruza com a de Netuno.
Com isso, o longínquo e escuro Plutão, parte do imaginário de milhões de pessoas, entra numa nova categoria de objeto transnetuniano anão, ou seja, um planeta-anão. Esta nova classe é composta também por objetos que não cruzam com a órbira de Netuno, mas levam mais de 200 anos para completar uma voltar ao redor do Sol. Permanecem como planetas Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.
Além de Plutão, Xena e Caronte também farão parte dessa categoria. Ceres entrou na classificação de "pequenos corpos do Sistema Solar". No começo da reunião da UAI, foi aberta a possibilidade de que esses corpos fossem elevados à categoria de planetas, assim como Plutão. Mas a proposta foi por água abaixo porque daria brecha para aumentar cada vez mais o número de planetas de "primeira classe".
Para os astrônomos, a nova classificação é um marco na história da astronomia. Germano Afonso, doutor em astronomia pela Universidade de Paris e professor da Universidade Federal do Paraná, diz que os astrônomos há muito tempo não consideravam Plutão como planeta. "Plutão está muito longe praticamente 40 vezes a distância entre a Terra e o Sol , é pequeno e achatado." Já nos idos dos anos 40, existiam correntes contrárias à classificação de Plutão como planeta, diz.
Cada vez mais, com o avanço tecnológico, se encontram planetas fora do Sistema Solar. Por isso, há necessidade de uma definição mais clara, argumenta Afonso. "Essas alterações são importantes até para despertar o interesse do cidadão que começa a se questionar, por exemplo, se isso afeta a astrologia e conseqüentemente a previsão do horóscopo."
Quando Plutão foi descoberto em 1930 se pensava que era maior do que é na verdade. Parecia até ser maior do que Mercúrio. Só em 1978, com a descoberta de Caronte, os cientistas se deram conta de que Plutão era menor. A explicação é de Gastão Bierrenbach Lima Neto, professor do Instituto de Astronomia da Universidade de São Paulo (USP). "Ou seja, até 1978, não se tinha idéia da massa de Plutão."
Lima cita que dentre as novas definições para planetas estão o fato de ser grande suficiente para ser esférico, girar em torno de uma estrela, não ser satélite e ter uma órbita limpa, sem a presença de outros objetos.
José Manoel Luís Ungaretti da Silva, diretor do Observatório Astronômico e Planetário do Colégio Estadual do Paraná, considera que o resultado da convenção da UAI é animador e positivo. "A entidade agiu sabiamente quando convocou astrônomos e fez consultas a todos os seus membros sobre as mudanças que deveriam ocorrer."
As definições que vinham sendo utilizadas estavam arcaicas e desde a década de 90 foram descobertos mais de 150 planetas fora do Sistema Solar, comenta Silva. Agora, diz Silva, Plutão será o protótipo padrão da nova categoria de objetos transnetunianos.
Com a decisão da UAI, todos os livros escolares e enciclopédias em geral terão de ser reescritos. No Brasil, o rebaixamento de Plutão só constará nos livros didáticos das escolas públicas a partir de 2008. Os de 2007 já foram editados.
O nome Plutão não mais aparecerá descrito como planeta, mas com certeza muitos guardarão na memória os dias em que o astro foi uma das mais respeitáveis figuras do Sistema Solar.