Uma tempestade de neve que se estende desde o fim de semana reduziu o acesso por estrada ao resort de Davos, onde começa nesta terça-feira (23) a 48ª reunião anual do Fórum Econômico Mundial.
Com a neve acumulada em quase um metro, a viagem de Zurique até a cidade nos Alpes, normalmente feita em pouco mais de duas horas, levava de cinco a seis horas nesta segunda, deixando parte da elite econômica mundial presa em longos engarrafamentos.
Os eventos da noite de abertura atrasaram quase uma hora; e com a expectativa de uma audiência recorde devido à alta concentração de governantes esperados (mais de 70, incluindo o americano Donald Trump), as filas para passar pela segurança e entrar no Centro de Congresso se estendiam.
Nem todos conseguiram chegar a tempo da cerimônia de abertura, com o discurso do fundador e chairman do fórum, Klaus Schwab, sobre o tema desta edição, "Criar um Futuro Compartilhado em um Mundo Fraturado", e a entrega do Crystal Awards, que entre os homenageados teve o cantor britânico Elton John.
O músico exortou a plateia de pesos-pesados das finanças, da política e dos negócios a agir para reduzir a desigualdade. O mesmo recado veio do papa Francisco, que enviou uma mensagem pedindo uma economia mais humanizada.
Embora a redução da desigualdade seja um tema prevalente no fórum deste ano, que aborda a transformação do mercado de trabalho, ambiente e energia e o papel das mulheres, o tom geral do evento é de otimismo.
Mais cedo, o Fundo Monetário Internacional divulgou suas projeções de crescimento da economia global para este ano e o próximo, ambas revisadas para cima para 3,9%.
A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, fez a ressalva em seu pronunciamento na tarde desta segunda, ao apresentar o relatório: "Ainda existe gente demais de fora da recuperação: na verdade, um quinto dos mercados emergentes e das economias em desenvolvimento viram sua renda per capita encolher em 2017", afirmou, pedindo que os governantes e executivos não se acomodassem em uma "nova mediocridade" do ciclo econômico, agindo para aparar arestas e ajustar as contas.
A tradicional pesquisa da consultoria PwC com CEOs de 85 países indicou que as expectativas estão em seu nível mais alto desde 2012, quando as grandes economias começaram de fato a sair da crise que atingiu a economia global nos quatro anos anteriores.
Vitrine
Nesta terça, o fórum começa para valer. Serão mais de 400 sessões, incluindo pronunciamentos de presidentes e primeiros-ministros como Trump, o francês Emmanuel Macron, a alemã Angela Merkel, o italiano Paolo Gentiloni, o argentino Mauricio Macri e o brasileiro Michel Temer, que fala na quarta-feira, único dia em que estará em Davos.
O presidente desembarca nesta terça em Zurique, onde passa a noite e se dirige para os Alpes na própria quarta, antes de voltar novamente a Zurique e partir para o Brasil, na quinta. Com 10 mil habitantes, a estação de inverno suíça não comporta comitivas presidenciais, apesar da vasta rede hoteleira.
A agenda do presidente está fortemente concentrada em negócios e energia. Os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho, têm agenda cheia durante os quatro dias de encontro, assim como os presidentes da Petrobras, Pedro Parente, e da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior.
O prefeito de São Paulo, João Doria, também veio a Davos e avalia que o interesse no Brasil é forte, apesar do rebaixamento da avaliação do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor's.
"Todos os meus encontros com empresários estrangeiros em Davos foram agendados a pedido das empresas. E foram todos confirmados, mesmo com o 'downgrading'", disse Doria à reportagem.
Animados com a expectativa de recuperação, os governantes querem vender seus países à elite empresarial e financeira global como bons lugares para investir.
Nenhum discurso, no entanto, é tão esperado como o do americano Trump na sexta-feira. Embora tenha acabado de completar um errático primeiro ano na Casa Branca, o republicano tem bons dados econômicos para mostrar, sobretudo sua reforma tributária, com a qual pretende promover consumo e investimento no curto prazo.
A velocidade e o fôlego da celebrada recuperação, contudo, podem depender de o quanto Trump conseguirá convencer os investidores de sua capacidade de manter seu país nos trilhos apesar de seu humor volátil.
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