Ursula von der Leyen criou uma campanha para atrair recrutas. Posando com membros das forças especiais da marinha alemã| Foto: Fabian Bimmer/reuters

O Exército da Alemanha está lutando para sobreviver. Mas não no campo de batalha tradicional.

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Seis meses antes de se tornar a primeira mulher a servir como ministra da defesa do seu país, Ursula von der Leyen criou uma campanha fora do comum e, sendo isso na Alemanha, batizou-a com um nome muito grande: Attraktivitätsoffensive (ofensiva de charme, em tradução aproximada).

Por escrito, esse programa para atrair soldados e modernizar as forças armadas parece uma combinação do catálogo da Ikea com um manual de administração. Há cláusulas que permitem mais trabalho a partir de casa e divisão de trabalho para quem é pai, além de creches com tempo estendido correspondente às horas ou aos turnos.

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A Alemanha vem confrontando uma crise demográfica. Para não perder um futuro soldado para os reinados mais confortáveis do Deutsche Bank ou para as linhas de montagem de automóveis da Opel ou da Mercedes-Benz, o exército precisa ser mais atraente.

O beliscão do recrutamento chega no momento em que a Alemanha questiona o quão ousadamente deve se afirmar na crise da Ucrânia e das tensões com a Rússia.

"Estamos enfrentando um grande desafio", Von der Leyen disse ao apresentar o programa de 130 milhões de dólares. A Alemanha deve oferecer treinamento, condições e um plano de carreira que mantenha o ritmo, segundo ela, minimizando os riscos óbvios envolvidos na vida militar.

Os críticos dentro das forças militares resmungaram pelo fato de uma mulher que previamente serviu como ministra da família e depois como ministra do trabalho estar concentrada em fazer o que já fazia antes, em vez de trabalhar seriamente com doutrina de combate e aquisição de sistemas de armas de vários bilhões de euros.

Berthold Meyer, perito das forças armadas da Alemanha, disse, "Muitos ainda estão irritados com o fato de uma mulher ocupar esse cargo".

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Embora as mulheres tenham sido aceitas há 10 anos, elas ainda constituem apenas 10 por cento do contingente de 183,000 das forças armadas.

Mas Von der Leyen, quase sempre vista como uma rival e potencial sucessora da Primeira-Ministra Angela Merkel, identificou um problema que vai além do gênero.

As crianças que poderiam ser os novos soldados de 2024, os peritos ressaltaram, já nasceram. Existem pouco menos de 700.000 delas, e cerca da metade dessas crianças são meninas com menor probabilidade de escolher a vida militar do que seus colegas meninos. Incentivar até 10 por cento dos aproximadamente 300.000 meninos com cidadania alemã a considerarem as forças armadas não é fácil.

Na Alemanha existe uma dificuldade especial em tornar a vida militar uma tentação. Um século após o militarismo alemão ajudar a causar a Primeira Guerra Mundial e 75 anos após o início da Segunda Guerra, o impulso pacifista é forte. Como resultado, o setor militar aqui não é nada que lembre a honra das forças armadas nos EUA, na Grã-Bretanha ou na França.

"Nos Estados Unidos", disse Hellmut Königshaus, comissário parlamentar das forças armadas, "se alguém trajando um uniforme chega, as pessoas costumam se levantar e lhe cumprimentar e agradecer pelo serviço. Na Alemanha, isso é quase impensável".

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Se Von der Leyen obtiver êxito, será bom para o exército alemão e talvez para uma eventual concorrência a sua chancelaria. Se fracassar, isso pode encerrar sua carreira política.

Porém, independente do quanto a animação seja enfatizada, Meyer frisou, "a profissão de soldado em si não é realmente amigável para as famílias".

Mesmo com a missão da Alemanha no Afeganistão encerrando este ano, ele ressaltou, "é preciso aceitar que você será enviado a algum lugar em uma missão de vida ou morte. E é o máximo que conseguimos chegar para tornar isso agradável aos seres humanos".

A nova ministra da defesa dá ao exército uma nova imagem.