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Os retratos de celebridades são um gênero popular de arte nos presídios. John Mulligan diz que espera vender alguns dos retratos de Richard Matt | Heather Ainsworth/The New York Times
Os retratos de celebridades são um gênero popular de arte nos presídios. John Mulligan diz que espera vender alguns dos retratos de Richard Matt| Foto: Heather Ainsworth/The New York Times

A notícia de que Richard W. Matt, assassino condenado morto por dois policiais no final de junho, depois de escapar de uma prisão de Nova York, passou a maior parte de seu tempo atrás das grades pintando retratos que trocava por tratamento preferencial, foi uma surpresa para muita gente.

Porém, para aqueles que passaram anos no sistema prisional, esse tipo de barganha é um ritual profundamente enraizado da vida dos encarcerados. É praticado de maneira informal ou como parte de programas estabelecidos por uma grande gama de prisioneiros, muitos deles, como Matt, com passado profundamente violento e pouca experiência artística.

Matt e outro preso conseguiram escapar por semanas da operação montada para pegá-los depois de cavar um buraco e fugir do Presídio Clinton, no estado de Nova York. As pessoas que o conheceram ali dizem que ele pintava para se manter ocupado e para conseguir favores de guardas e dos outros prisioneiros.

John Mulligan passou dois anos e meio na prisão com Matt e, depois de ser solto, pediu ao mesmo que lhe mandasse as pinturas e desenhos que queria vender. Mulligan afirma que pintar “era a saída para não ficar remoendo os pensamentos o tempo todo — era uma válvula de escape”. As pinturas de Matt eram retratos de celebridades, figuras políticas e pessoas queridas dos outros presos.

Um guarda da prisão de Clinton, Gene Palmer, contou que contrabandeou uma chave de fenda e um alicate e fez outros favores para Matt em troca de pinturas. Palmer também contou aos investigadores que ajudou Matt a mandar um quadro pelo correio — o do personagem Tony Soprano — para uma mulher que a vendeu no eBay por dois mil dólares.

As peças feitas por condenados mais conhecidos — Charles Manson, John Wayne Gacy – sempre encontraram colecionadores. O mercado para arte de presidiários geralmente vai de pequenas galerias e exibições ao eBay e outras páginas da internet.

Phyllis Kornfeld, que deu aulas em prisões por 30 anos, diz que a maioria dos prisioneiros tem acesso limitado a materiais e instruções e pintam, desenham ou fazem esculturas para passar o tempo e como uma forma de expressão. “Raramente é para lucrar”, conta Kornfeld, autor de “Cellblock Visions: Prison Art in America” (“Visões das Celas: Arte das Prisões na América”).

Para Anthony Papa, que cumpria pena em Sing Sing em Ossining, Nova York, quando um colega o ensinou a pintar, “a arte é uma ferramenta de reabilitação muito poderosa, não apenas para o preso, mas para a instituição”. Papa seguiu a carreira. Depois de ser solto, vendeu trabalhos por mais de mil dólares.

Andrew Edlin, dono da Feira de Arte Outsider, afirma que se o trabalho de Matt se tornou mais valioso para os colecionadores, isso tem pouco a ver com a qualidade da arte.

“Suas razões seriam puramente mercenárias. Acho que é o tipo de história sobre a cultura da estranheza do pop e não uma história sobre o mundo da arte”, explica.

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