| Foto: James Nieves/the new york times

O novo livro de Kevin Birmingham, "The Most Dangerous Book: The Battle For James Joyce’s ‘Ulysses’", sobre a longa batalha contra a censura do romance de James Joyce, envolve histórias sobre os direitos femininos e heróicas editoras mulheres, sobre a Primeira Guerra Mundial, sobre anarquismo e modernismo, sobre ternura e sífilis, e sobre como a literatura pode dobrar a consciência de uma era.

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Ele isola uma grande história de amor, a de Joyce e Nora Barnacle, que traz algumas das correspondências mais alegremente picantes da história literária.

Sobre Joyce, ele escreve: "Ele queria que as pessoas lessem romances com cuidado, de forma tão ardente e desperta como leriam cartas picantes. Aquilo foi uma das grandes ideias do modernismo. James Joyce tratava os leitores como se eles fossem amantes".

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Quando embarcou em "Ulisses", em 1915, Joyce estava na casa dos 30 anos, empobrecido, desempregado, casado, com dois filhos e morando na Itália. O fronte de guerra estava próximo. Sua carreira literária era uma confusão. Ele tinha problemas devastadores de visão trazidos pela sífilis, segundo Birmingham, e havia se submetido a mais de dez cirurgias.

Conforme trechos de "Ulisses" apareceram na revista "The Little Review" de Chicago, editada por Margaret Anderson, a publicação começou a ser assediada por censores, em parte devido a supostas conexões com radicais e anarquistas.

Birmingham descreve que, enquanto cruzados anti-vícios queriam proibir "Ulisses" para supostamente proteger as sensibilidades femininas, muitos dos defensores do livro eram mulheres. Após ler a prosa de Joyce, Anderson comentou com sua sócia na "The Little Review", Jane Heap: "Isso é a coisa mais maravilhosa que jamais teremos. Vamos publicar, nem que seja o último esforço de nossas vidas". As duas mulheres acabariam nos tribunais.

Sylvia Beach, proprietária da livraria Shakespeare and Company, em Paris, publicou a primeira edição do romance de Joyce em 1922, e trabalhou para contrabandear o livro para os Estados Unidos. Sobre ela, Birmingham diz: "Ela queria dar ao mundo algo mais do que pijamas e leite condensado".

Outros heróis incluem Ezra Pound, que afirmou que não podia ajudar Joyce a publicar seus poemas na Inglaterra porque ele havia queimado todas as suas pontes. Eles também incluem Ernest Hemingway, que ajudou Beach a contrabandear cópias de "Ulisses" para os Estados Unidos, e John Quinn e Morris Ernst, que defenderam os escritos de Joyce no tribunal.

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O livro também é povoado pelos menos heróicos. Virginia Woolf não gostou de "Ulisses" logo de cara, e recusou uma oportunidade de ser sua primeira editora.

Birmingham escreve que o romance de Joyce era "um novo processamento da forma como as pessoas pensam", e explica por que uma boa história faz a diferença, e não apenas Joyce. "Pode ser difícil enxergar como o romance de Joyce (como qualquer romance, na verdade) poderia ser revolucionário. Isso ocorre porque todas as revoluções parecem mansas quando vistas do outro lado".

E acrescenta: "Nós nos esquecemos de como era o velho mundo, esquecemos inclusive que as coisas poderiam ter acontecido de qualquer outra maneira".