Ele disse ter se apaixonado por “suas ideias, seus pensamentos”. Ela disse que ele a fez esquecer que estava acima do peso e “me sentir bonita”.
Eles flertaram desajeitadamente em uma conferência em Amã, na Jordânia, onde se conheceram em 2011. Em seguida, com a troca de mensagens de texto ao longo de algumas semanas, descobriram que ambos se interessavam por fotografia e astronomia e adoravam o kabsa, um prato saudita. Os celulares dos dois tinham a música do Backstreet Boys com as letras: “I don’t care who you are/Where you’re from/Or what you did/As long as you love me” (Não me importa quem você seja/de onde vem /ou o que você fez/contanto que me ame). Ficaram noivos, completando o contrato para se casar em um tribunal islâmico.
Porém, seu amor não pode se realizar. Dalia Shurrab, de 32 anos, mora aqui no sul da cidade de Khan Younis, em Gaza, e Rashed Sameer Faddah, de 35, na cidade de Nablus, na Cisjordânia. O romance não está entre as razões humanitárias para que Israel permita que palestinos viajem daqui para lá.
Agora, o casal começou uma campanha pelo Facebook pedindo ao presidente Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina, para “Entregar a Noiva ao Noivo”.
Eles estão entre milhares de palestinos que grupos de direitos humanos dizem estar sofrendo com a separação entre Cisjordânia e Gaza, especialmente desde que o movimento militante islâmico Hamas assumiu o controle da faixa costeira em 2007. Em um relatório, no ano passado, dois grupos israelenses, B’Tselem e HaMoked, documentaram dezenas de casos em que Israel, que se encontra entre os dois territórios, impediu a passagem de palestinos para casamentos, funerais ou outras necessidades. As políticas israelenses “transformaram a vida diária em algo insuportável para as famílias divididas entre as duas áreas”, diz o relatório. Leis internacionais consagram “o direito à vida familiar”, porém, para muitos palestinos, “os assuntos mais simples — começar uma família, viver com o cônjuge e os filhos e manter contato regular com as famílias de origens de ambos os parceiros — já não são garantidos”.
Nos primeiros anos depois que Israel conquistou os territórios na guerra de 1967, os palestinos circulavam livremente entre eles.
Em 1991, durante a primeira intifada, ou levante palestino, Israel começou a exigir licenças para sair de Gaza; elas se tornaram mais raras em meio à constante violência. Após o início da segunda intifada em 2000, Israel parou de atualizar o registro de população palestina de Gaza que se mudava para a Cisjordânia; o relatório B’Tselem-HaMoked diz que Israel estima que mais de 20 mil habitantes de Gaza agora vivem lá sem identificação adequada, o que limita sua movimentação e o emprego.
Apesar de ter seus pedidos para se casar em Nablus negados, Dalia teve permissão de ir para a Cisjordânia em maio passado para uma competição de negócios. Faddah veio vê-la e ela pensou em fugir com ele, mas não o fez acreditando que poderia prejudicar outros em seu grupo. Então, o que lhes resta são as mensagens de texto e as conversas pelo Skype, que dependem da intermitente eletricidade de Gaza.
“O que você está fazendo?” ele perguntou quando se conectaram em uma noite recente. “Estou esperando por você”, ela respondeu.