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Hannah Payne, 18 anos, estudante da UCLA e blogueira de estilo de vida, é uma legítima representante da geração Z | MAX WHITTAKER/NYT
Hannah Payne, 18 anos, estudante da UCLA e blogueira de estilo de vida, é uma legítima representante da geração Z| Foto: MAX WHITTAKER/NYT

Eu escuto a expressão “geração do milênio” (nascidos entre 1980 e 1995) e um monte de imagens me vêm à mente. Vejo Mark Zuckerberg, do Facebook, ganhando o primeiro bilhão aos 23 anos de idade. Vejo Miley Cyrus exibindo, orgulhosa, a pele nua. Vejo Lena Dunham, rainha de quem se expõe demais na TV, mergulhando em monólogos olhando o próprio umbigo que parecem ter sido escritos para o divã do terapeuta.

Características geracionais

Geração do milênio

(nascidos entre 1980-1995)

Música: Lady Gaga

Mídia social: Facebook

Primeiro dispositivo: iPod

Geração Z

(nascidos entre 1996-2010)

Música: Lorde

Mídia social: Snapchat, Whisper

Primeiro dispositivo: iPhone

Eles são metidos a besta, narcisistas, acham que têm direito a tudo. Ou pelo menos é o que diz o clichê.

Mas e a “geração Z” (nascidos entre 1996 e 2010), a nascida após a do milênio e que se apresenta como o próximo grande sucesso para pesquisadores de mercado, observadores culturais e para aqueles que preveem tendências?

Como os membros mais velhos dessa turma mal e mal saídos do ensino médio, esses pré-adolescentes e adolescentes de hoje estão preparados para se tornar os principais influenciadores da juventude do amanhã. Com os bolsos cheios de bilhões para gastar, eles prometem tesouros incontáveis para quem tiver a chave mestra de sua psique.

Não é por nada que a corrida para definir e anunciar para esse rolo compressor demográfico já começou. Eles são a “próxima grande inovação do varejo”, segundo a publicação “Women’s Wear Daily”. Eles têm “a força de salvar o mundo e corrigir nossos erros passados em seus pequenos ombros”, segundo artigo de Jeremy Finch, consultor de inovação, publicado no site Co.Exist, da Fast Company.

Lucie Greene, diretora mundial do Grupo de Inovação da J. Walter Thompson, os chama de “geração do milênio com esteroides”.

Embora seja fácil zombar da tentativa dos publicitários de enfiar dezenas de milhões de adolescentes em um arquétipo geracional, ao estilo dos “baby boomers” (nascidos entre 1946 e 1964), também está claro que uma pessoa de 14 anos em 2015 habita um mundo substancialmente diferente do que o de 2005.

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“Se a Hannah Horvath do (seriado) ‘Girl’ é um exemplo típico da geração do milênio – egoísta, dependente, descontrolada financeiramente no mundo real quando suas expectativas de emprego e vida dos sonhos colidem com a realidade –, então Alex Dunphy de ‘Modern Family’ representa o antídoto da geração Z.

Alex é o verdadeiro integrante da geração Z: escrupuloso, trabalha com afinco, é meio ansioso e pensa no futuro”, disse Lucie.

Tecnológicos e discretos

Então, quem são eles? Para responder a essa pergunta, é preciso dar uma olhada atenta ao mundo no qual eles estão se tornando adultos. “Quando penso na Geração Z, tecnologia é a primeira coisa que me vem à mente. Conheço gente cujas relações mais íntimas se dão via Tumblr, Instagram e Facebook”, declarou Emily Citarella, aluna do ensino médio de 16 anos de Atlanta, Geórgia.

Decerto, a geração do milênio era digital; sua adolescência foi definida por iPods e pelo MySpace. Já a geração Z é a primeira a ser criada na era dos smartphones. Muitos não se lembram como era antes da mídia social.

“Nós somos os primeiros nativos digitais de verdade. Posso quase que simultaneamente criar um documento, editar, publicar uma foto na Instagram e falar ao telefone, tudo usando a interface amigável do meu iPhone”, disse Hannah Payne, estudante da Universidade da Califórnia, campus de Los Angeles, e blogueira de estilo de vida.

“A geração Z capta a informação instantaneamente e perde o interesse com igual velocidade”, garantiu ela.

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Essa visão não passou despercebida pelos publicitários. Em uma era de emojis e vídeos de seis segundos no Vine, “dizemos aos anunciantes que se não se comunicarem em cinco palavras e com uma imagem grande, eles não falarão com essa geração”, afirmou Dan Schawbel, sócio-diretor da Millennial Branding, consultoria de Nova York.

Até agora, eles se parecem muito com a geração do milênio. Contudo, quem estuda tendências juvenis começa a notar grandes diferenças na forma como as duas gerações enxergam as personalidades on-line, a começar pela privacidade.

Embora a geração do milênio tenha vergonhosamente sido a pioneira ao publicar fotos no Facebook tomando cerveja de funil, muitos da geração Z passaram a adotar plataformas anônimas da mídia social, como Secret ou Whisper, bem como o Snapchat, no qual qualquer imagem incriminadora some quase que de imediato, disse Dan Gould, consultor de tendências da Sparks & Honey, agência de publicidade de Nova York.

Legado geracional

Os pais dos adolescentes da geração Z desempenham um papel fundamental na formação de sua mentalidade coletiva. A geração do milênio, geralmente vista – às vezes injustamente ¬– como fedelhos narcisistas que esperam que o chefe lhes traga café, foram em grande medida criados por “baby boomers”, que, segundo muitos, compõem a geração mais iconoclasta, egocêntrica e grandiosa de todos os tempos.

Em comparação, a geração Z costuma ser o fruto da geração X, geração enfastiada, relativamente pequena, que chegou à maturidade depois do escândalo de Watergate, do pânico do Vietnã da década de 1970, quando os horizontes pareciam limitados. A geração X, que cresceu com discos do Nirvana e filmes de terror, tentou dar aos filhos a infância segura que não teve, avaliou Neil Howe, economista.

“Quando vemos as mães blogueiras da geração X, a segurança é uma grande preocupação: copos de aço inoxidável para bebês, sem bisfenol, carrinhos com proteção lateral, comida infantil preparada em casa”, disse Howe, dono da Saeculum Research, consultoria de tendências sociais no estado de Virgínia.

Parte dessa obsessão com segurança deve vir das dificuldades que os membros da geração Z e seus pais vivenciaram durante os anos de formação.

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“Sem sombra de dúvidas, acredito que crescer num momento complicado, com conflito global e problemas econômicos, afetou meu futuro”, disse Seimi Park, aluna de 17 anos do último ano do ensino médio de Virginia Beach que sempre sonhou com uma carreira na moda, mas optou recentemente por Direito por parecer mais seguro.

“Isso se aplica a todos os meus amigos. Creio que posso falar em nome da minha geração quando digo que nosso otimismo foi substituído há muito tempo pelo pragmatismo.”

Junte tudo – a privacidade, a cautela, o foco em carreiras “sensatas” – e a geração Z começa a parecer menos com os arrogantes do milênio e mais com seus avós (ou, em alguns casos, bisavós), declarou Howe.

As crianças do final da década de 1920 até o começo da de 40, chamada de geração silenciosa, foram modeladas pela guerra e pela depressão, crescendo para se tornarem os carreiristas diligentes do “não questione para se dar bem” das décadas de 50 e 60.

“Os paralelos com a geração silenciosa são óbvios. Houve uma recessão, empregos estão difíceis, não se pode correr riscos. É preciso ter cuidado com o que se publica no Facebook. Você não quer estragar seu histórico”, disse Howe.

Os filhos do “New Deal”, simbolizados pelo comedido Warren Buffett, “não queriam mudar o sistema, eles queriam trabalhar dentro do sistema”, explicou Howe. “Eles eram os homens de terno de flanela cinza. Casaram-se cedo, tiveram filhos cedo. A primeira pergunta nas entrevistas de emprego era sobre planos de previdência.”

Essa analogia só funciona até determinado ponto no caso de uma geração disposta a publicar vídeos no Vine virando estrelas sobre gatos. Quanto aos ternos de flanela cinza, os pais talvez ainda não queiram mandar os adolescentes ao alfaiate. O relatório da Sparks & Honey argumenta que o “empreendedorismo está em seu DNA”.

“A garotada observa empresas novatas dando certo instantaneamente via mídia social. Nós não queremos trabalhar na lanchonete local durante o verão. Queremos abrir nosso próprio negócio, porque vemos os sortudos que ganharam milhões”, disse Andrew Schoonover, 15 anos, de Olathe, no Kansas.

O que nos leva a um ponto final digno de mencionar sobre a geração silenciosa. Como Howe assinalou, ela não foi apenas a geração mais focada em carreira da história. Também foi a mais rica.

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