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Como um jovem parlamentar definindo-se como um candidato presidencial, Barack Obama visitou um centro de acadêmicos em agosto de 2007 para fazer um discurso sobre o terrorismo. Ele descreveu um estado de vigilância enlouquecido e prometeu controlá-lo. "Isso significa o fim das escutas telefônicas ilegais para cidadãos americanos e das cartas de segurança nacional (intimação) para espionar cidadãos que não são suspeitos de nenhum crime", declarou ele.

Mais de seis anos depois, o antigo defensor da Constituição é o atual comandante-chefe presidindo um estado de vigilância que, segundo alguns de seus próprios conselheiros, está novamente fora de controle. Em 17 de janeiro, ele deu outro discurso, desta vez no Departamento de Justiça, onde anunciou mudanças na forma como o governo coleta e utiliza registros telefônicos –, mas defendeu a necessidade de uma ampla vigilância.

A jornada entre esses dois discursos reflete a transição de senador júnior a presidente dos Estados Unidos. O candidato idealista, cético frente ao poder governamental, descobriu que as complexas questões de segurança nacional parecem bem diferentes quando se está encarregado de usar esse poder para assegurar a segurança pública.

Assessores afirmaram que mesmo como senador, Obama apoiava uma vigilância robusta desde que ela fosse legal e apropriada, e que como presidente ele ainda compartilha preocupações de excesso de alcance. Porém, eles disseram que suas opiniões foram moldadas pela realidade de acordar diariamente na Casa Branca como o responsável por anular as ameaças.

"Existem pessoas por aí que estão sempre tramando", disse David Pouffe, conselheiro de longa data do presidente. "A ideia de derrubarmos uma ferramenta que pode proteger as pessoas aqui nos Estados Unidos é difícil de entender".

Ao mesmo tempo, assessores afirmaram que Obama ficou surpreso ao descobrir, após vazamentos de Edward J. Snowden, ex-analista da Agência de Segurança Nacional (NSA, da sigla em inglês), a que ponto a vigilância havia chegado. "As coisas parecem ter crescido na NSA", disse Plouffe, citando as escutas telefônicas de líderes estrangeiros. "Acho que aquilo foi perturbador para a maioria das pessoas, e que ele também ficou perturbado".

Alguns envolvidos na vigilância apontam que o próprio Obama exortou as agências de segurança nacional a serem agressivas na caça aos terroristas. "Para alguns, sua indignação acaba soando um pouco vazia", declarou um ex-funcionário de contraterrorismo.

O discurso de Obama em 2007 no Woodrow Wilson International Center for Scholars, em Washington, veio após a revelação de que o presidente George W. Bush havia autorizado a vigilância sem mandados judiciais em casos de terrorismo – sem permissão da Foreign Intelligence Surveillance Court, a Corte de Vigilância da Inteligência dos EUA. Então um candidato presidencial, Obama criticou a "falsa escolha de Bush entre as liberdades que amamos e a segurança que oferecemos".

Contudo, no verão de 2008, com a nomeação democrata garantida, Obama aprovou uma legislação basicamente ratificando os programas de vigilância de Bush. O futuro presidente argumentou que colocar os programas sob a jurisdição da Corte de Inteligência restaurava sua prestação de contas.

Antes de sua posse, Obama foi informado de um suposto plano de extremistas somalis para atacar a cerimônia. Embora o relatório tenha se mostrado infundado, ele reforçou a Obama a necessidade de identificar ameaças antes que elas se materializassem. "Aquela ameaça somali introduziu sua equipe nas realidades da segurança nacional de uma maneira tangível e complexa", lembrou Juan C. Zarate, assessor de contraterrorismo de Bush que trabalhou com a equipe de Obama na ameaça.

Isso foi percebido ainda mais duramente no natal de 2009, quando um nigeriano tentou detonar explosivos a bordo de um avião comercial. Em uma reunião na Casa Branca logo em seguida, um Obama agitado "foi extremamente firme com funcionários de inteligência, dizendo esperar que fôssemos melhores", recordou um dos que estavam na sala.

Sentindo pouca pressão para conter as agências de segurança, Obama basicamente deixou-as em paz até Snowden começar a divulgar programas secretos, no ano passado. O presidente ficou nervoso com as revelações, classificando Snowden privadamente como um narcisista em busca de atenção.

Ele ficou surpreso com o alvoroço que se seguiu, segundo assessores, particularmente pelo fato de tantos americanos não confiarem nele – e muito menos na fiscalização oferecida pela Corte de Inteligência e pelo congresso. Conforme mais segredos eram revelados, conselheiros disseram que Obama ficou decepcionado. Ele teria ficado desconcertado ao descobrir do grampo no celular da chanceler Angela Merkel, da Alemanha.

Obama nomeou um painel para revisar os programas. Entretanto, ele tinha plena consciência dos riscos de ser visto como se algemasse as agências de segurança. "Qualquer reforma que ele faça", argumentou David Axelrod, ex-consultor de Obama, "pode ter certeza de que, se houver outro incidente – e as probabilidades são a esse favor em nossa história –, segundos depois haverá alguém na CNN dizendo que, se o presidente não tivesse cerceado a comunidade de inteligência, isso não teria acontecido".

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