Em 1957, um inexperiente nutricionista da Universidade de Illinois convenceu um hospital a lhe dar amostras de artérias de pacientes que houvessem morrido em decorrência de ataques do coração.

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Quando ele as analisou, fez uma descoberta aterradora. Não era de surpreender que as artérias doentes estivessem repletas de gordura – mas de um tipo específico de gordura. Os ácidos graxos artificiais conhecidos como gorduras trans, vindo dos óleos hidrogenados utilizados em alimentos como a margarina, ocorriam em quantidade muito superior à de outros ácidos graxos.

O cientista, Fred Kummerow, prosseguiu com um estudo que revelou quantidades assustadoras de placas de gordura capazes de entupir artérias em porcos que eram alimentados com uma dieta baseada nessas gorduras artificiais. O Dr. Kummerow se tornou um pioneiro na pesquisa das gorduras trans e um dos primeiros a atestar a ligação entre doenças cardíacas e alimentos processados.

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Passariam mais de três décadas até que essas descobertas obtivessem uma ampla aceitação – e cinco décadas antes que a Administração de Drogas e Alimentos dos EUA (ou FDA, na sigla em inglês) decidisse que a gordura trans deveria ser eliminada da alimentação, conforme propôs em novembro.

Atualmente, aos 99 anos de idade, o Dr. Kummerow continua ativo; ele vive perto da universidade, onde comanda um pequeno laboratório, e continua a chegar a conclusões inesperadas sobre a gordura e as doenças cardíacas.

Nos últimos dois anos, ele publicou quatro artigos em revistas científicas com revisão por pares, dois dos quais dedicados a outro grande responsável pela arteriosclerose, ou o endurecimento das artérias: o excesso de óleos vegetais poli-insaturados como óleo de soja, de milho e de semente de girassol – os tipos de gorduras que os americanos foram incentivados a consumir ao longo de décadas.

O problema, segundo ele, não é o LDL, ou o "colesterol ruim", considerado amplamente o maior causador de doenças no coração. O que importa é se o colesterol e a gordura presentes nessas partículas de LDL foram oxidados.

"O colesterol não tem qualquer relação com doenças cardíacas, a menos que esteja oxidado", afirmou o Dr. Kummerow. A oxidação é um processo químico que ocorre no corpo, contribuindo para o envelhecimento e o desenvolvimento de doenças crônicas e degenerativas. O Dr. Kummerow defende que as altas temperaturas utilizadas para a realização de frituras comerciais levam as gorduras poli-insaturadas, naturalmente instáveis, a se oxidarem, e que esses ácidos graxos oxidados se transformam em uma parte destrutiva das partículas de LDL. Mesmo quando não são oxidados pela fritura, os óleos de soja e milho podem oxidar no corpo.

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Se isso for verdade, essa hipótese pode explicar porque os estudos revelam que metade de todos os pacientes com problemas cardíacos apresentavam níveis normais e até mesmo baixos de LDL.

"Você pode ter níveis ótimos de LDL e ainda ter problemas pelo fato de boa parte desse LDL ter oxidado", afirmou o Dr. Kummerow. Isso o levou a uma conclusão controversa: que a gordura saturada encontrada na manteiga, nos queijos e nas carnes não contribui para o entupimento das artérias – e que, na verdade, ela é benéfica se for consumida em quantidades moderadas, no contexto de uma dieta saudável (com muitas frutas, vegetais, grãos integrais e outros alimentos frescos).

Sua dieta pessoal serve como prova disso. Além de frutas, vegetais e grãos integrais, ele come carne vermelha diversas vezes por semana e bebe leite integral todos os dias. Ele não se lembra de quando foi a última vez que comeu fritura, nunca usou margarina, e faz ovos mexidos com manteiga todas as manhãs.

O pesquisador acredita que os ovos são um dos alimentos mais perfeitos da natureza, algo que afirma desde os anos 1970, quando o consumo de ovos repletos de colesterol era visto como uma passagem só de ida para as doenças no coração.

"Os ovos possuem todos os nove aminoácidos necessários para a construção de novas células, além de importantes vitaminas e minerais", afirmou. "É loucura comer só a clara do ovo."

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O Dr. Robert H. Eckel, endocrinologista e ex-presidente da Associação Americana do Coração, concorda que o LDL oxidado é muito pior que o não oxidado em termos da formação das placas.

Porém, ele discorda da afirmação do Dr. Kummerow de que as gorduras saturadas possam ser benignas e de que os óleos vegetais poli-insaturados causem doenças cardíacas. "Há estudos que demonstram claramente que a substituição do consumo de gorduras saturadas por poli-insaturadas leva a uma redução nas doenças cardiovasculares", afirmou o Dr. Eckel, professor da Universidade do Colorado.

Robert L. Collette, presidente do Instituto de Gordura Vegetal e Óleos Comestíveis, entidade que reúne as empresas do setor nos EUA, afirma que os fabricantes de óleo trabalham com seus clientes para se precaverem contra a oxidação.

Em uma idade na qual a própria vida é uma conquista, o Dr. Kummerow afirmou que não pretendia deixar o trabalho que o consumiu durante seis décadas.

Seu problema de saúde mais grave foi o bloqueio de uma artéria aos 89 anos – provavelmente o resultado dos efeitos inevitáveis da idade, não da dieta.

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Uma cirurgia de ponte deu conta do bloqueio e ele está ainda mais determinado a continuar trabalhando. As doenças cardíacas continuam a ser a principal causa de morte em muitos países e ele gostaria de ajudar a mudar essa tendência.

"O que eu realmente quero ver é o fim das gorduras trans", afirmou, "e que as pessoas se alimentem melhor e tenham uma compreensão mais clara do que realmente causa as doenças cardíacas".