No intervalo de um curso na Universidade Eastern Michigan, uma assistente de ensino aproximou-se de três professoras. “Acho que vocês precisam ver isso”, disse ela, abrindo um aplicativo no celular. Durante as aulas das três, alguns dos 230 alunos no auditório conversavam sobre elas em um site de mídia social chamado Yik Yak. Havia dezenas de posts, muitos deles humilhantes, usando linguagem sexualmente explícita.
Uma das professoras, Margaret Crouch, pediu que a Universidade tomasse medidas, mas pouco aconteceu: o Yik Yak é anônimo. Não dá para saber quem são os responsáveis pelos posts.
A Eastern Michigan é uma das várias universidades americanas cujos campi foram perturbados por “yaks” ofensivos. Desde que o aplicativo apareceu há pouco mais de um ano, já foi usado para divulgar ameaças de violência em massa em mais de uma dúzia de universidades. “Yaks” racistas, homofóbicos e misóginos geraram controvérsia em muitos outras. No Kenyon College em Ohio, um “yakker” propôs um estupro em grupo na escola.
Do mesmo modo com que o Facebook tomou conta dos alojamentos de estudantes universitários há uma década, o Yik Yak agora invadiu seus smartphones. Não há perfil de usuário, as mensagens não são separadas de acordo com amigos ou seguidores, mas por localização geográfica, e aparecem apenas dentro de um raio de 2,4 quilômetros, tornando-o adequado para o campus universitário.
As faculdades se veem impotentes para lidar com os problemas que o Yik Yak está causando. A política de privacidade do aplicativo impede a identificação dos usuários sem uma intimação, ordem judicial ou mandado de busca ou um pedido de emergência de um policial com uma alegação convincente de dano iminente. As escolas bloqueiam o acesso a ele em suas redes Wi-Fi, mas os alunos o utilizam com seu serviço de celular.
O Yik Yak foi criado no final de 2013 por Tyler Droll e Brooks Buffington, logo depois que se formaram na Universidade Furman, na Carolina do Sul. Eles tiveram a ideia depois de perceber que as contas de Twitter com mais seguidores em Furman pertenciam a estudantes populares. Disseram que desejavam criar uma rede social onde todos os usuários pudessem ter seus posts lidos amplamente.
Em apenas alguns meses, o Yik Yak já era usado em cerca de 40 faculdades no sul dos Estados Unidos, e rapidamente se espalhou por escolas de ensino médio e fundamental.
Em novembro, o Yik Yak fechou uma rodada de financiamento de US$62 milhões liderada por uma das maiores empresas de capital de risco do Vale do Silício, a Sequoia Capital, valorizando a empresa em centenas de milhões de dólares. O aplicativo é gratuito, e como muitas startups, a empresa, com sede em Atlanta, não gera nenhuma receita.
Segundo seus fundadores, o sucesso instantâneo do Yik Yak os pegou desprevenidos com relação a alguns dos problemas que surgiram. Em resposta a queixas, eles fizeram algumas mudanças, como por exemplo adicionar filtros para impedir que nomes completos fossem postados. Em casos envolvendo ameaças de violência, o Yik Yak tem cooperado com as autoridades. Na ausência de uma ameaça específica, porém, a empresa zelosamente protege a identidade de seus usuários.
“Esse é um problema com a cultura da internet em geral, mas quando há essa vinculação ao local, surge uma dimensão mais preocupante. Você não sabe de onde vem a agressão, mas sabe que está muito perto”, diz Elias Aboujaoude, psiquiatra da Universidade de Stanford e autor de “Virtually You” (Virtualmente você).
Os fundadores do Yik Yak dizem que sua startup está apenas passando pelas dores de crescimento. Buffington disse: “Ainda estamos aprendendo a transformar a comunidade em algo mais construtivo”.