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Dinheiro & negócios

A queda de um banqueiro português

Em 2011, pouco antes de começar as negociações de ajuda internacional com seus credores, o primeiro ministro português conversou com o banqueiro mais poderoso do país, Ricardo Espírito Santo Silva Salgado.

Agora, o banco que Salgado e sua família controlaram durante boa parte de século, o Banco Espírito Santo, precisou recorrer a uma humilhante intervenção que destaca o quanto a falência de velhos bancos continua a atrapalhar a vida das economias mais fracas da Europa.

Salgado é conhecido em Portugal como o "Dono disto tudo". Mas apesar de toda a sua importância em Lisboa e outras cidades, ele e alguns de seus parentes enfrentam não apenas dificuldades financeiras, como também uma série de problemas legais. Promotores e reguladores portugueses e europeus investigam possíveis casos de fraude, abuso de informações privilegiadas e acusações de que o banco teria transferido empréstimos duvidosos para outras partes do império Espírito Santo, que inclui hotéis, hospitais, fazendas, etc.

Em Portugal, o sobrenome Espírito Santo é muito similar ao dos Rockefeller nos EUA, ou dos Rothschild, na Europa. Assim como nesses outros impérios comerciais, gerações de membros da família controlaram os negócios com pulso firme, aceitando investidores externos, mas cedendo pouco controle da gestão dos negócios.

Então, no começo deste mês, o Banco Espírito Santo relatou um prejuízo de 3,58 bilhões de euros, levando autoridades portuguesas e europeias a entrarem com um pacote de ajuda de 4,9 bilhões de euros.

A intervenção rápida, que protegeu os ativos problemáticos que estavam prejudicando financeiramente os acionistas e credores, ajudou a acalmar os mercados. Entretanto, especialistas continuam preocupados com a capacidade dos reguladores do sistema bancário europeu em lidar com problemas maiores e mais sistemáticos.

"É bom que eles tenham agido com tanta rapidez", afirmou Nicholas Spiro, da Spiro Sovereign Strategy, em Londres. "Porém, mais uma vez, trata-se de um pacote de ajuda financiado pelo Estado; exatamente o que os líderes da zona do euro estão tentando evitar".

Há diversos fatores em ação por trás da implosão econômica de países como Grécia, Portugal, Chipre, Irlanda e Espanha.

"Todos esses países compartilham as mesmas fraquezas: a falta de regulamentação eficaz em nível local", afirmou Peter Dalianes, consultor financeiro que vive em Atenas. "Ninguém sabe ao certo quem está em conluio com quem".

Especialistas destacam um fator financeiro comum a esses países: sistemas bancários pequenos e mal regulamentados que faturaram bilhões de euros com empréstimos questionáveis para empresas com as quais os executivos e líderes dos bancos possuíam relações públicas ou privadas.

Muitos desses bancos faliram ou diminuíram de tamanho desde que a crise financeira atingiu a Europa em 2010, mas em Portugal e na Grécia, os gestores dos maiores grupos bancários foram capazes de manter seus cargos.

Salgado, entretanto, acabou caindo. Depois de abrir mão do cargo de diretor do banco, foi preso pela polícia no dia 24 de julho em sua casa em Cascais, cidade pitoresca a beira-mar nos arredores de Lisboa, sendo levado à justiça acusado de evasão fiscal e lavagem de dinheiro. Algumas horas depois, foi liberado após pagar uma fiança de três milhões de euros, sob a condição de que não saísse de Portugal.

Durante o processo de ajuda internacional que colocou em dia as contas do governo, o Banco Espírito Santo foi o único grande banco de Portugal que não recorreu a nenhum tipo de ajuda financeira. Naquela época, isso foi visto como um sinal de força. Agora, muitos desconfiam que o banco tinha algo a esconder.

Contribuiu Jack Ewing

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