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Enfurecidos pelos líderes da nação, muitos dos manifestantes que tomaram as ruas venezuelanas estão de olho em outro governo, o de Cuba, do qual talvez se ressintam com o mesmo amargor que dedicam ao próprio governo.

Para eles, o governo cubano e seu presidente, Raúl Castro, têm se aproveitado da riqueza petrolífera da Venezuela, transplantando o rígido socialismo cubano para seu país e ajudando a orquestrar uma ampla repressão à oposição.

O rancor é ecoado pela oposição cubana, que apoia a causa dos manifestantes venezuelanos, distribuindo fotos e vídeos dos protestos e da violência policial no Twitter, incentivando os venezuelanos a resistir e chegando a se desculpar pelo que consideram uma intromissão de Cuba.

A fixação com a influência cubana nas questões internas venezuelanas mostra como as realidades políticas e econômicas dos dois países continuam enredadas passado um ano da morte do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o mais próximo aliado externo de Fidel Castro.

"Nós fomos invadidos pelos cubanos", afirmou Reinerit Romero, 48 anos, secretária que participou de manifestação recente por aqui em protestos contra a falta de alimentos.

Na mesma marcha, Carlos Rasquin, 60 anos, psiquiatra, carregava um cartaz com os dizeres "não à cubanização". Segundo ele, "cubanização" significava reprimir a atividade oposicionista, aniquilar a iniciativa privada e eliminar quem é visto como inimigo do governo na sociedade civil.

"Não dá para ver muito disso, mas dá para sentir bastante", ele disse a respeito da presença cubana.

"Todo mundo sabe que os cubanos controlam a inteligência militar, a inteligência policial", acrescentou o psiquiatra, ao lado de dezenas de soldados vestindo equipamento de proteção, que impediram os manifestantes de marchar até prédios do governo. "Eles controlam a coordenação das forças armadas."

Embora ex-militares venezuelanos digam que os cubanos estejam envolvidos na tomada de decisão das forças armadas, alguns manifestantes vão além, alegando ver "a mão invisível" de Cuba em todo lugar, dizendo ter detectado "agentes infiltrados" nos protestos de rua e ter enxergado a marca registrada cubana nas táticas das forças armadas do país. Além disso, circulam relatos não comprovados pela internet de que as forças especiais cubanas, as Vespas Negras, estão agindo na Venezuela.

O governo cubano não respondeu a tais afirmativas.

Pelo contrário, Bruno Rodríguez, ministro do exterior de Cuba, atacou há pouco tempo a "interferência" na Venezuela, por parte da Organização dos Estados Americanos e dos Estados Unidos, onde políticos pediram medidas mais fortes contra o governo venezuelano e acusaram Cuba de "exportar a repressão" para lá.

Os protestos na Venezuela energizaram os membros da fragmentada e extremamente monitorada oposição cubana, tornando-se um foco para o ativismo que, para alguns, pouca coisa produz na ilha.

"Minha conta no Twitter agora é praticamente venezuelana", afirmou Orlando Luis Pardo Lazo, blogueiro cubano de oposição radicado nos EUA. "O destino do castrismo pode estar em jogo na Venezuela", ele disse. "O que não conseguimos derrubar em Cuba, talvez possamos derrubar por lá."

O ressentimento da oposição venezuelana em relação a Cuba provém em parte de um acordo segundo o qual a nação remete ao vizinho aproximadamente US$ 4 bilhões em petróleo cru por ano. Por sua vez, Cuba enviou milhares de médicos, dentistas, técnicos e treinadores esportivos para atuar no outro país. Críticos questionam como o valor desses trabalhadores é calculado e destacam problemas em alguns dos programas sociais. Existe uma sensação entre integrantes da oposição venezuelana de que o país, onde faltam produtos básicos e existem filas longas, está ficando mais parecido com Cuba.

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