Esta ilha vulcânica faz parte das lendas escocesas há mil anos; seu perfil montanhoso ilustra as cédulas de dinheiro e foi imortalizado num soneto de John Keats.
A ilha não tem moradores, eletricidade, água potável nem terras aráveis. Mas, há mais de um século, as pedreiras são a fonte de um microgranito distinto, resistente à água, usado na fabricação da maioria das pedras de curling do mundo, inclusive as que serão usadas nos Jogos Olímpicos que começam em fevereiro.
Mas o módico lucro da exploração das pedreiras da ilha, que produzem granitos "blue hone" e "common green," e um arrendamento concedido à Sociedade Real Britânica para a Proteção de Pássaros pesam sobre os recursos cada vez menores do proprietário, o oitavo Marquês de Ailsa, cuja família é dona da ilha há 500 anos. Em 2010, ele decidiu desfazer-se da ilha de 90 hectares, Ailsa Craig, por um preço inicial de US$ 4 milhões. Depois de algum tempo, esse número caiu para US$ 2,4 milhões.
Quando Keats viu a ilha pela primeira vez, com mais de 300 metros de altitude perto da costa oeste da Escócia em 1818, ele voltou a uma pousada no continente e escreveu um soneto, à luz de velas, descrevendo a ilha como uma "pirâmide oceânica rochosa", vinda das profundezas através de poderes místicos, e com a presença eterna de águias e baleias. Quase 200 anos depois, a ilha mantém-se como ícone na consciência nacional escocesa, impregnada de um caráter forte e independente.
Ao longo dos séculos, a ilha serviu como reduto para combater invasores espanhóis, santuário para piratas e, nos últimos 25 anos, área de preservação e desova para dezenas de milhares de aves marinhas.
Ela é também, gaba-se o corretor, Farhad Vladi, "a única ilha ganhadora de uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos!".
A referência da medalha foi às pedras de curling usadas por Rhona Martin, campeã escocesa que ganhou a medalha de ouro feminina nos Jogos de Inverno de Salt Lake City, em 2002.
Os escoceses, bem como outros britânicos, esperam uma repetição nas Olimpíadas de Sochi, e veem Ailsa Craig como um talismã. Duas mil toneladas de granito previamente extraído foram tiradas da ilha este ano e cortadas, giradas, polidas e transformadas nas pedras de Sochi numa fábrica em Mauchline, em Ayrshire, que tem um contrato para fabricar as pedras olímpicas.
As pedras de 20 kg, com formato de chaleira, serão feitas com granito esmaltado de Ailsa Craig, conhecido como "common green", e irão deslizar até a "casa", ou alvo, num ringue cuja base é feita do inimitável "blue hone", cuja estrutura molecular estreita o torna impermeável ao gelo derretido.
Enquanto isso, o marquês conhecido como Lorde Archibald Angus Charles Kennedy falousobre a possibilidade de se desfazer da ilha. "Ela não vai a lugar algume, na verdade, não importa quem seja o dono."