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A Emirates é a única companhia a encomendar um número significativo de aviões A380 de US$ 400 milhões | Kieran Doherty/Reuters
A Emirates é a única companhia a encomendar um número significativo de aviões A380 de US$ 400 milhões| Foto: Kieran Doherty/Reuters

Para ter uma ideia boa das dimensões do Airbus A380, suba a grande escadaria de uma versão da Emirates da aeronave, passando pelos chuveiros e as suítes de primeira classe e então pelas fileiras intermináveis da classe executiva, até chegar ao bar nos fundos do deque superior. Esse semicírculo elegante, com iluminação sedutora de baixo para cima e bem estocado com bebidas caras, é uma atração própria da aeronave, que tem capacidade para mais de 500 passageiros.

Desde que começou a voar comercialmente, sete anos atrás, o A380 capturou a imaginação de viajantes. Seus dois deques compridos somam 560 metros quadrados, 50 a mais que o jato jumbo original, o Boeing 747. Sua envergadura mal caberia dentro de um campo de futebol. Seus quatro motores elevam o avião de 500 toneladas para a altitude de cruzeiro, 12 mil metros, em menos de 15 minutos. Os passageiros apreciam o avião porque é silencioso e se parece com um navio de cruzeiro.

O A380 foi a resposta que a Airbus apresentou a uma tendência problemática: mais e mais passageiros significavam mais voos e aeroportos cada vez mais congestionados. A Airbus calculou que o futuro do transporte aéreo de passageiros estaria em aeronaves grandes viajando entre grandes pontos de concentração de voos.

A previsão não chegou a se concretizar. A Airbus está encontrando dificuldade em vender os aparelhos. Os pedidos têm demorado a chegar, e não foi encontrado um comprador sequer nos Estados Unidos, América do Sul, África ou Índia. Apenas uma companhia aérea chinesa encomendou um A380, e o único cliente no Japão cancelou seu pedido.

O A380 é anunciado pelo preço de US$ 400 milhões (R$ 900 mi), mas a pressão forçou a Airbus a reduzir esse valor em até 50%. Até agora a Airbus já recebeu 318 pedidos e entregou 138 aviões a apenas 11 companhias aéreas.

Apenas uma companhia aérea, a Emirates, fez do A380 um elemento central de sua estratégia global, encomendando 140 aparelhos enquanto construía um centro importante de transporte aéreo de passageiros em Dubai.

O A380 foi lançado em uma fase de queda profunda nos negócios das companhias. Mas críticos como o analista aeroespacial Richard Aboulafia dizem que o problema é mais fundamental: a Airbus teria feito a previsão errada em relação às preferências de viagem dos passageiros. Para ele, as pessoas preferem voos diretos em aviões menores a embarcar em aviões grandes com conexões em centros enormes.

"Todas as ideias equivocadas que alguém já teve em relação à aviação civil estão encarnadas neste avião", ele disse.

A Airbus gastou US$ 25 bilhões (R$ 56 bi) para desenvolver a aeronave. Isso foi uma dádiva para a indústria aeroespacial europeia, mas é pouco provável que Airbus recupere os custos que teve. Apenas três companhias novas —Etihad Airways, Qatar Airways e Asiana Airlines— estão comprando A380 este ano.

A Virgin Atlantic, que tem opções de compra de seis A380, ainda está indecisa. A Lufthansa reduziu seu pedido de 17 para 14 aviões.

As companhias aéreas não apenas precisam se arriscar devido ao tamanho e custo do A380, como conquistar a cooperação de aeroportos para modificar portões e alargar pistas de taxiagem para criar espaço para o avião. Nenhum aeroporto do Brasil, por exemplo, comporta um A380.

Mas a Emirates continua a pôr fé no A380. "As pessoas embarcam no A380 e simplesmente amam", disse o presidente da empresa, Tim Clark, para quem o deque superior de seus A380 "é uma festa só". Outras linhas aéreas configuram seus A380 de modo diferente; algumas incluem assentos de classe econômica no deque superior.

Foi Clark quem teve a ideia de instalar dois chuveiros para passageiros da primeira classe. E ele instalou um bar maior a bordo, além de dois sofás semicirculares com cintos de segurança para o caso de turbulência.

Num voo de 13 horas entre Nova York e Dubai este ano, cerca de 400 passageiros no deque inferior tentavam dormir. No deque de cima, o advogado Rudolph V. Pino Jr., de Nova York, tomava um cálice de Chardonnay e batia papo com outros passageiros. Os comissários no bar distribuíam champanhe e canapés entre os presentes.

"Este é um avião especial", comentou o passageiro. "Ele recupera um pouco do glamour das viagens aéreas, como nos tempos da TWA e dos Boeings 747 antigos."

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