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Mural em Teerã; interesses dos EUA e do Irã estão alinhados no Afeganistão | Abedin Taherkenareh/European Pressphoto Agency
Mural em Teerã; interesses dos EUA e do Irã estão alinhados no Afeganistão| Foto: Abedin Taherkenareh/European Pressphoto Agency

Os militares americanos que assessoram as forças de segurança iraquianas na turbulenta província de Anbar estão compartilhando uma base com uma milícia apoiada pelo Irã que antigamente matava soldados dos EUA. Ambos estão lutando contra os militantes da facção terrorista Estado Islâmico (EI).

Na capital do Iraque, no entanto, Teerã e Washington ainda estão em lados opostos. Os Estados Unidos estão pedindo ao governo iraquiano, dominado pelos xiitas, que se empenhe mais em atrair membros da minoria sunita para o combate ao EI. O Irã, xiita, e seus aliados estão atrapalhando esse esforço.

A dicotomia ilustra as complexidades da relação entre os Estados Unidos e o Irã em lugares como o Iraque, onde os interesses dos dois rivais se chocam e convergem. Agora que um acordo para limitar o programa nuclear iraniano superou seu maior obstáculo no Congresso dos EUA, Washington terá de navegar por um labirinto regional cada vez mais complicado, com um Irã recém-habilitado pela legitimidade internacional e pelo alívio das sanções econômicas.

Além disso, há indícios de que os contatos entre os dois países por causa das negociações nucleares começaram a produzir mais áreas de colaboração, ainda que limitadas, no Iraque, no Afeganistão e, em menor medida, no Iêmen.

Críticos dizem que o acordo nuclear só servirá para estimular o Irã a intensificar suas muitas campanhas “terceirizadas” contra os Estados Unidos e seus aliados: armar o Hizbollah e o Hamas para lutar contra Israel; mobilizar tropas iranianas para defender o ditador sírio, Bashar al-Assad; apoiar os rebeldes houthis no Iêmen; manter a política libanesa refém dos seus interesses.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, queixou-se de que o acordo será lucrativo para o maior inimigo do seu país. As monarquias sunitas do golfo Pérsico, aliadas dos EUA, alertam para um agravamento dos conflitos sectários.

Alguns analistas veem esse relacionamento mais colaborativo como consequência das negociações que levaram ao acordo nuclear.

“Tanto o governo iraniano quanto o americano se envolverão com muito cuidado num diálogo ampliado”, disse James Dobbins, pesquisador na consultoria Rand Corporation.

“No entanto, mesmo assim, haverá um aumento gradual, pelo menos, na comunicação entre os dois governos em áreas além da questão nuclear.”

O Afeganistão talvez seja o lugar onde o potencial para colaboração é mais claro. Enquanto as negociações nucleares ganhavam impulso no ano passado, diplomatas iranianos trabalhavam com o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, para selar um acordo em Cabul que evitasse um impasse eleitoral e permitisse a formação de um novo governo no Afeganistão.

Os dois lados querem também barrar o regresso do Taleban ao poder e impedir que a Al Qaeda restabeleça refúgios no país. Teerã se preocupa, além do mais, com o intenso fluxo de ópio e de refugiados do Afeganistão para o Irã, que partilha uma extensa fronteira com o país persa, disse Michael Kugelman, pesquisador de assuntos do Sul da Ásia no Centro Woodrow Wilson, em Washington. “Seus interesses convergem mais no Afeganistão do que os dois lados gostariam de admitir”, afirmou.

No Iêmen, os Estados Unidos apoiaram uma intervenção militar saudita contra o avanço do movimento houthi, mas também discordaram das alegações de Riad de que o Irã estaria controlando os rebeldes iemenitas.

Os sauditas se disseram forçados a intervir para impedir que o Irã dominasse o seu vizinho meridional. Mas há poucos indícios de que os iranianos teriam dado apoio militar significativo aos houthis, segundo April Alley, pesquisadora do International Crisis Group.

O Iraque é a arena mais sangrenta da rivalidade americano-iraniana. No entanto, agora os americanos se comunicam com os iranianos por intermédio de um oficial militar iraquiano, de modo a assegurar que ataques aéreos liderados pelos EUA contra o Estado Islâmico não atinjam as milícias pró-Teerã que lutam contra o mesmo inimigo.

De toda forma, essa ainda é uma situação profundamente desconfortável.

As autoridades americanas reconhecem que as milícias são essenciais na luta contra o EI, mas temem que esses grupos, especialmente em Anbar, estejam coletando informações sobre as forças dos EUA para o Irã. Por isso, elas pressionaram os iraquianos a retirarem a milícia Kataib da sua guarnição.

O acordo nuclear deixou as autoridades iraquianas esperançosas por uma cooperação militar mais estreita entre os dois rivais, segundo o parlamentar iraquiano Mowaffak al Rubaie, pertencente a uma facção xiita. “Na próxima fase eles precisam se coordenar de uma maneira mais formal”, disse ele.

Em termos práticos, o Irã vai recuperar cerca de US$ 50 bilhões em ativos graças ao alívio nas sanções, segundo estimativas oficiais do Tesouro dos EUA.

Porém, analistas dizem que o dinheiro nunca pareceu ser um fator determinante nas políticas iranianas. Teerã aparentemente vê seu apoio a Assad na Síria e sua oposição ao Estado Islâmico no Iraque como necessidades estratégicas, independentemente do custo que acarretem.

O diplomata grego Konstantinos Vardakis, principal representante da União Europeia em Bagdá, disse esperar que o acordo nuclear leve a negociações mais amplas com o Irã sobre o futuro do Iraque e da Síria. “Precisamos dos iranianos para resolver a situação”, afirmou ele, sugerindo que “a porta está aberta para abordar outras questões”.

No entanto, aliados do Irã no Líbano e no Iraque dizem não enxergar essas soluções. Todos veem o acordo como uma vitória do Irã e garantem que sua hostilidade aos EUA se mantém intacta.

Naeem al Aboudi, porta-voz de uma milícia apoiada pelo Irã no Iraque, trouxe à tona uma teoria conspiratória especialmente cara aos apaniguados de Teerã no Iraque: que os Estados Unidos criaram o Estado Islâmico e têm pouco interesse real em derrotá-lo.

“O acordo nuclear é um assunto diplomático no qual não estamos envolvidos”, disse Aboudi. “Temos problemas com os Estados Unidos há muito tempo.”

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