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Sem sombra de dúvida, a maconha está na berlinda.

O Uruguai se tornou o primeiro país a legalizar a venda de maconha neste mês, e os eleitores dos Estados de Washington e Colorado decidiram que é legal comprá-la sem a exigência médica que vários Estados americanos adotaram nos chamados dispensários médicos.

"Estamos navegando em águas desconhecidas por aqui", afirmou ao New York Times o prefeito de Denver, Michael B. Hancock, onde 149 empresas se candidataram a vender ou cultivar maconha.

A lei uruguaia cria uma agência estatal para supervisionar a plantação, colheita e venda de maconha. Os uruguaios vão se cadastrar nela, obtendo permissão para comprar 40 gramas mensais por US$ 1 na farmácia local. Cada família pode cultivar seis pés; já as cooperativas podem ter até 99 plantas.

Agora, atuais e ex-presidentes do Brasil, Argentina, Bolívia, Guatemala, Colômbia e México defendem uma reavaliação das políticas de proibição, incluindo as iniciativas norte-americanas voltadas contra as drogas na América Latina.

"Ao entrarmos em 2014, estamos no meio de uma mudança fundamental no pensamento a respeito da política de drogas pelas Américas", escreveu o jornalista britânico Ioan Grillo no New York Times. "É a maior mudança nessa direção desde que a região entrou no caminho da proibição da Lei Harrison de taxação aos narcóticos, de 1914."

A mudança de direção vai além da América Latina. No começo do ano que vem, moradores de Washington e Colorado com mais de 21 anos de idade poderão entrar numa loja e comprar 28 gramas de maconha, da mesma forma que fariam com um maço de cigarros ou uma garrafa de vinho. Arizona, Califórnia, Oregon e Alaska planejam referendos de legalização para o ano que vem, devendo ser seguidos por outros Estados norte-americanos em 2016.

A abordagem adotada pelo movimento a favor da legalização foi a de remover as armadilhas da cultura das drogas e promover a mensagem de que fumar a erva "faz parte da vida comum, como uma bebida depois do trabalho", noticiou o New York Times.

O jornal "Denver Post" fez da cobertura da maconha uma parte comum de sua sala de redação, contratando um editor para supervisionar a história da regulamentação, a reação das agências de manutenção da ordem pública e a ciência por trás da droga. Centenas de currículos foram enviados para aquilo que o jornal britânico "The Independent" chamou de "provavelmente o melhor emprego do jornalismo". Apresentadores de programas de televisão noturnos e comediantes fizeram piadas com o anúncio.

Porém, os editores do "Post" são sérios.

"Nós temos uma abordagem extremamente crível e profissional nessa área", afirmou Ricardo Baca, 36 anos, que assumiu o cargo no mês passado.

Baca, ex-editor de variedades, entrou em contato com jornalistas do exterior, explorando como as leis do Colorado se comparam às de países como a Holanda, onde o uso da droga recreativa é ilegal, mas tolerado.

Ele admitiu que fuma maconha, mas jura seguir as políticas do jornal, que acrescentou a maconha à lista de substâncias que os funcionários não podem usar no emprego. "Eu nunca virei trabalhar chapado", ele disse. "Eu nunca vou escrever qualquer coisa sob sua influência."

No final das contas, existe dinheiro a ser ganho com a legalização, e muitos dos empreendedores que esperam lucrar com a maconha legal são entusiastas que a usam de forma recreativa há muito tempo.

Porém, também existem empresários como Donald Burks, 70 anos, que nunca experimentou maconha, mas quer uma licença de cultivo porque viu um mercado para sementes especiais e mudas – nicho que conhece bem após 30 anos como produtor rural em Washington.

"Todo produtor que conheço está procurando uma nova variedade", disse Burks ao New York Times. Ele nunca imaginou que a maconha um dia se tornasse uma planta agrícola, mas o agricultor já se enganou antes.

"Eu também não esperava que o brócolis se tornasse um produto popular, mas isso aconteceu."

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