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Crianças em uma aula do Grupo de Assistência Ndlovu, inicialmente financiado pelo PEPFAR, um programa americano | João Silva/The New York Times
Crianças em uma aula do Grupo de Assistência Ndlovu, inicialmente financiado pelo PEPFAR, um programa americano| Foto: João Silva/The New York Times

No passado recente, por volta de 2008, a epidemia de Aids na África do Sul estava fora de controle, e a situação era dificultada pela indiferença do presidente Thabo Mbeki, sucessor de Nelson Mandela.

A morte estava por toda parte. A funerária desta cidade a nordeste de Pretória anunciava em um outdoor meio apagado: "Jazigos disponíveis. Compre um, leve outro de graça".

Mas agora, o país foi elogiado por especialistas em Aids do mundo todo por sua resposta. A África do Sul tem 2,4 milhões de pessoas utilizando drogas antirretrovirais, muito mais do que qualquer outro país, e incluí mais 100.000 a cada mês. Cinco anos atrás, 490 clínicas distribuíam essas drogas; agora são 3.540. (Os números, do final de 2013, são os mais recentes disponíveis).

A transmissão de mãe para filho caiu 90 por cento e expectativa de vida aumentou em quase 10 anos.

Mas os especialistas dizem que muito desse progresso está em perigo.

A África do Sul deve muito de seu sucesso a um único programa dos Estados Unidos, o Plano de Emergência Presidencial para o Alívio da Aids (PEPFAR, na sigla em inglês), iniciado em 2003 no governo de George W. Bush. Ele distribuiu mais de US$ 3 bilhões na África do Sul, em grande parte para a formação de médicos, construção de clínicas e laboratórios e compra de remédios.

Agora, essa ajuda começa a escassear, pois o programa irá destinar seu orçamento limitado a países mais pobres, o governo sul-africano precisará ir atrás de centenas de milhões de dólares, e o número de casos cresce rapidamente.

O país tem 6 milhões de infectados e 370.000 novas infecções por ano. Isso é sete vezes mais novas infecções do que nos Estados Unidos, que tem uma população seis vezes maior.

Em países pobres com sistemas de saúde quebrados, o PEPFAR paga escolas médicas americanas para executar os programas. A África do Sul, por outro lado, tinha excelentes médicos e hospitais, mas o Ministro da saúde de Mbeki, que alegou que o alho, a beterraba e o limão podiam curar a doença, proibiu a distribuição de drogas contra a Aids em hospitais públicos.

Quando Mbeki foi finalmente deposto, suas políticas haviam ceifado 365.000 vidas, de acordo com pesquisadores de Harvard.

O país recebeu US$ 350 milhões do PEPFAR no ano passado, de acordo com o Dr. Eric Goosby, que executou o programa até novembro. Essa quantia será reduzida para US$ 250 milhões em 2016.

"Precisamos avançar para lugares como o Burundi e a República dos Camarões", disse Goosby.

A África do Sul agora paga 83 por cento das suas próprias despesas. Mas, como já se sabe, é melhor medicar os pacientes logo que a infecção seja constatada ao invés de esperar até que seu sistema imunológico vacile, e isso irá triplicar a carga de trabalho nacional.

Dr. Aaron Motsoaledi, ministro da saúde, disse que sua maior preocupação é de que forças de fora do país iriam aumentar os preços dos novos medicamentos, impedindo a importação de versões genéricas.

Em janeiro, a Médicos sem Fronteiras divulgou documentos que obteve delineando uma campanha secreta planejada por uma empresa de lobby de Washington contratada pela indústria farmacêutica. O grupo propunha formar uma organização de fachada chamada "Para frente, África do Sul", buscando defender leis de patentes mais fortes contra os genéricos.

Motsoaledi denunciou publicamente o plano como "satânico" e "genocida", e o lobby farmacêutico abandonou-o depois que alguns de seus membros demitiram-se em protesto.

Ele disse acreditar que conseguirá dinheiro suficiente do governo para tratar a todos.

"Se não for assim", afirmou, "a tuberculose irá piorar, o câncer cervical aumentará, e até a lepra poderá retornar. De qualquer ângulo que se olhe, é mais barato tratar as pessoas mais cedo".

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