Sacos de resíduos contaminados por radiação são empilhados na estrada que leva a Miyakoji, que foi reaberta aos moradores| Foto: Ko Sasaki para The New York Times

Desde que foram obrigados a evacuar durante o desastre da usina nuclear de Fukushima Daiichi, há três anos, Kim Eunja e seu marido se recusaram a voltar para casa, em meio às majestosas montanhas desta aldeia rural, por medo de radiação.

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Mas agora eles dizem não ter escolha. Após uma limpeza de radiação de quase US$250 milhões, o governo central recentemente declarou Miyakoji como a primeira comunidade, dentro de uma zona de evacuação de 19 quilômetros ao redor da usina, a ser reaberta aos moradores.

"O governo e a mídia afirmam que a radiação foi removida, mas é mentira", declarou Kim, de 55 anos, que possui um pequeno restaurante coreano perto de Miyakoji. "Eu quero fugir, mas não posso. Não temos mais dinheiro".

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Ela não é a única. Embora o governo central e a imprensa nacional tenham alardeado a reabertura de Miyakoji como um marco feliz na recuperação japonesa do devastador terremoto e tsunami em março de 2011, muitos moradores insistem que suas casas continuam perigosas ou danificadas demais para habitar. Eles criticam a operadora da usina, a Tokyo Electric Power Company, ou Tepco, por ressarcimentos insuficientes para pagar por uma mudança para longe da usina – que ainda está vazando material radioativo – ou para reformar suas tradicionais casas de madeira, que começaram a apodrecer.

Como resultado, muitos evacuados foram obrigados a viver num estado de limbo desde o acidente, incapazes de deixar as habitações temporárias ou de acabar com sua dependência da Tepco por auxílios financeiros mensais para morar fora da aldeia. Agora eles sentem uma crescente pressão para voltar, querendo ou não. O governo declarou que as bolsas terminarão no próximo mês de março, quando as moradias temporárias também começarão a fechar.

Especialistas veem Miyakoji como uma precursora dos problemas que serão enfrentados pelas 150 mil pessoas desalojadas pelo desastre, conforme outras comunidades forem reabertas. Eles dizem que os evacuados sentirão cada vez mais pressão para retornar, por um governo que deseja restaurar da melhor forma possível a situação pré-desastre.

"O governo nacional sabe que uma compensação integral pode representar muito dinheiro, o bastante para levantar dúvidas públicas sobre a sabedoria de se usar a energia nuclear no Japão", explicou Teruhisa Maruyama, advogado de uma organização que ajuda moradores a buscar mais compensações.

Um porta-voz do Ministério da Educação, que está definindo padrões de ressarcimento, disse estar tentando responder às necessidades dos evacuados, mas que é difícil atender a todas as solicitações.

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Quase 500 moradores de Miyakoji aderiram a ações judiciais exigindo que a Tepco pague mais compensações, uma rara demonstração de frustrações numa comunidade rural que geralmente abomina o litígio.

Embora muitos evacuados afirmem que não querem voltar devido à radiação, o governo garante que Miyakoji está segura.

Numa recente visita local, a radiação mediu até 0,23 microsieverts por hora – cerca de três vezes os níveis anteriores ao desastre, mas abaixo daqueles de algumas comunidades fora da zona de evacuação. Se esse nível é seguro ou não continua sendo uma questão controversa: especialistas admitem saber pouco sobre os efeitos da exposição em longo prazo a pequenas doses de radiação.

Até agora, apenas um terço dos moradores retornou, e a maioria deles é de aldeões idosos que sentem ter menos com que se preocupar sobre os riscos em longo prazo da radiação.

A maior parte dos aldeões, que viviam a mais de 19 quilômetros da usina, recebeu US$3.000 para cobrir danos e pôde retornar após seis meses. A maioria ainda não voltou, principalmente por medo da radiação, embora alguns reclamem que lojas e outros serviços ainda não tenham reaberto. Os 357 moradores de casas dentro da zona não foram autorizados a retornar até 1o de abril. Eles receberam aproximadamente a metade do valor de suas casas antes do desastres.

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Um deles era Yoshikuni Munakata, de 63 anos, cuja propriedade fica 14 quilômetros a sudoeste da usina destruída. Segundo Munakata, os US$50 mil recebidos como compensação não foram nem de longe suficientes para reformar a velha casa de fazenda construída por seu avô. Mesmo sem poder voltar, ele tampouco pode ir embora. Tentou isso logo após o acidente, indo à ilha de Hokkaido, no norte, para começar uma nova vida. Ele contou ter desistido após 18 meses, por falta de dinheiro, e voltou para coletar seu dinheiro mensal do auxílio de sobrevivência. Ele não sabe o que acontecerá quando ele terminar.

"Os pagamentos de compensação nos obrigam a retornar, mas não são suficientes para que voltemos a morar aqui", afirmou Munakata.