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O Vale do Silício mudou radicalmente o forma como nos comunicamos, pesquisamos, compramos livros e ouvimos música, e agora pretende transformar a maneira como comemos. Assim como as mensagens de texto substituiram o longo discurso e o bloqueio digital diminuiu a estranha evolução da intimidade, empresários de tecnologia esperam que busquemos uma comida mais eficiente, algoritmicamente derivada.

Chame-a de Comida 2.0.

Seguindo a crença de Steve Jobs de que "as pessoas não sabem o que querem até que você mostre a elas", algumas start-ups estão tentando revolucionar o sistema de alimentação ao projetar "carne" e "ovos" feitos de compostos de plantas ou pedaços de tecido animal cultivado. Uma das empresas quer acabar com a tarefa de comprar, cozinhar e até mesmo mastigar, com uma refeição líquida feita de derivados de algas.

A principal meta dos empresários de alimentos high-tech é oferecer alternativas à proteína animal. Espera-se que o consumo mundial de carne de porco, carne bovina, de aves e outros produtos de origem animal dobre até 2020. A proteína animal também é a parte mais vulnerável e trabalhosa do fornecimento alimentício. Além de essa produção utilizar uma imensidão de terra e água, abusar de antibióticos e ser altamente poluente, ela é responsável por 14,5 por cento da liberação de gases de efeito estufa, de acordo com as Nações Unidas.

"Queremos reinventar esse sistema alimentar maluco e perverso que obriga as pessoas a fazerem a coisa errada," disse Josh Tetrick, executivo chefe vegano da Hampton Creek, baseada em San Francisco. Sua empresa criou um substituto para o ovo usando uma proteína extraída da ervilha amarela canadense, incorporando-a ao Just Scramble (ovos mexidos), Just Mayo (maionese) e Just Cookie Dough (mistura para biscoitos), que estão começando a chegar às prateleiras do supermercado.

Substitutos do ovo (Ener-G, Vegg, etc.) e alternativas à carne (Tofurky, Soyrizo, etc.) ainda não são comuns, mas a Hampton Creek e suas rivais dizem que podem melhorar os produtos com uma maior utilização da computação do que da ciência dos alimentos.

Em vez dos ingredientes habituais anteriormente usados para substituir a proteína animal — soja, glúten de trigo, amido vegetal — empresas de Comida 2.0 usam algoritmos computadorizados para analisar centenas de milhares de espécies de plantas e descobrir quais compostos podem ser retirados e recombinados para criar o que dizem ser fontes de proteína melhores e mais sustentáveis.

Enquanto isso, produtores de carne in vitro como a Modern Meadow, com unidades em Nova York e na Califórnia, e pesquisadores europeus estão usando tecnologia de cultivo de tecido animal para fins médicos, como o desenvolvimento de pele e órgãos.

Especialistas em saúde pública apontam que há muita coisa que não sabemos sobre a maneira como a comida nos alimenta. Dissecar e recombinar os elementos constitutivos de um alimento ou deixá-los crescer em uma placa de Petri provavelmente não irá reproduzir todos os benefícios. Os críticos também questionam se os recursos e as emissões necessárias para fazer esses produtos são menos prejudiciais ao ambiente do que os métodos mais tradicionais de produção.

Em vez de centrifugar proteínas vegetais, "por que não comer os legumes?", perguntou Marion Nestle, autora de "Food Politics" (Política de alimentos) e professora de nutrição, estudos de alimentos e saúde pública da Universidade de Nova York.

Empresários de alimentos high-tech, em sua maioria jovens que passaram grande parte de suas vidas se abastecendo de fast food, dizem que querem oferecer mais conveniência e melhor sabor.

"Ser forçado a interromper minha linha de raciocínio por causa da fome era realmente um incômodo", disse Rob Rhinehart de San Francisco, inventor do Soylent, bebida que substitui a refeição. "Manter uma dieta equilibrada era como nadar em um mar de complexidade, de bioquímica e cozinha, de compra e limpeza".

Ao que Nestlé responde: "Sexo também é bagunçado e problemático".

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