A batatinha frita do tipo “chips” fez sua estreia na Exposição de Nova York de 1853, no Crystal Palace. A Exposição Panamericana de 1901, em Buffalo, Nova York, apresentou a máquina de raio-X ao mundo.
A feira mundial deste ano, a Expo Milão 2015, pode não reinventar a roda ou a batatinha chips. Mas é um instantâneo de nossos tempos, um parque de diversões para uma era marcada pela ansiedade.
Baseada no tema “Alimentando o Planeta, Energia para a Vida”, a feira, que funcionará até outubro, é descrita por seus organizadores como “um laboratório de inovações” ligadas ao “desenvolvimento sustentável, [à] segurança alimentar e [à] qualidade na cadeia de produção”.
Então o que exatamente é a Expo? Em parte Disneyland, em parte Bienal de Veneza, ela é voltada à conscientização do público sobre as mudanças climáticas e o desperdício de alimentos.
É uma maneira de os países se expressarem com pavilhões projetados por arquitetos de renome. É uma oportunidade de networking para empresas italianas em busca de novos mercados. É um lugar para os italianos experimentarem comida não italiana, muitos pela primeira vez. Os organizadores dizem que sua meta para esta feira, que ficará aberta por seis meses, é que 20% dos visitantes venham do exterior.
Minha impressão foi que a Expo se alterna entre o registro divertido e o apocalíptico. As crianças parecem adorar a rede elástica que todos os visitantes precisam transpor para entrar no pavilhão do Brasil. As pessoas pulavam tanto que eu quase caí.
Os gourmands parecem curtir o pavilhão da Identità Golose, organização de chefs de cozinha de Milão, que põe chefs que receberam estrelas Michelin trabalhando em duplas para servir refeições de quatro pratos por €75, ou cerca de R$ 312.
A praça Eately, com um pátio ajardinado central com mesas e algumas obras de arte estranhas, inclui restaurantes de delivery e destaca a culinária de cada uma das 20 regiões italianas, incluindo os piadine, ou sanduíches de pão prensado do tipo sírio, de Emília-Romanha, a temperada linguiça calabresa ‘nduja e o pesto genovês.
A Expo conta com cerca de 150 lugares para se comer. E é enorme —não tanto um centro de convenções quanto uma minicidade, com 54 pavilhões nacionais posicionados ao longo de uma artéria central de dois quilômetros de extensão, com prédios nas ruas laterais.
Alguns dos pavilhões da Expo são mais bem vistos a partir de fora. É o caso do belo wadi (vale) criado por sir Norman Foster para o pavilhão dos Emirados Árabes Unidos.
O pavilhão de Israel inclui um interessante campo vertical onde são cultivadas plantações com métodos de irrigação inovadores.
O pavilhão britânico, um tanto conceitual, tem uma colmeia de alumínio de 17 metros de altura. Os visitantes entram por uma passagem estreita que abre caminho por um campo ao nível de seus olhos, para reproduzir a vista a partir da posição de uma abelha. O serviço de catering Mosimann’s, de Londres, que cozinha para a família real britânica, comanda a cozinha do pavilhão. Experimentei tomates deliciosos, além de queijo de cabra, costeletas de carneiro e um refrescante pudim de pão branco ao molho de geleia de framboesa.
No pavilhão alemão, os visitantes assistem a um vídeo de dez minutos que explica o conceito da exposição e então são instruídos a segurar folhas de cartolina em um ângulo preciso em relação a sensores que, então, projetam informações sobre o meio ambiente. “É incrível”, ouvi alguém comentar, “só os alemães para nos darem regras sobre como nos divertir”.
A fachada de treliça branca do pavilhão italiano é feita, segundo me disse um porta-voz, de “concreto biodinâmico”. Atrás dela se ergue a Árvore da Vida, uma torre onde a cada noite acontece um show de som e luz com música.
O Pavilhão Zero, comandado pela própria Expo e que inclui conteúdos fornecidos pela ONU, tem o display mais impressionante. Um enorme paredão de monitores mostra os preços sempre mutantes de alimentos (canola, papaia, carne bovina, batatas etc.) nas Bolsas de Valores do mundo, ao lado de anúncios de alimentos. A mensagem, que obriga o espectador à reflexão, é que nossas escolhas alimentares têm consequências.
No restaurante Alce Nero Berberè, comandado pelo restaurante bolonhês do mesmo nome, por € 9 você pode comer uma pizza margherita perfeita com muçarela orgânica de búfala, molho de tomate fresco e base feita com fermento natural. A pizza, por si só, já justifica a visita à Expo.
Acabei indo ao Ferrari Spazio Bollicine, o único restaurante da praça Eataly com serviço de mesa. Ele é comandado pela vinícola Ferrari, que produz os vinhos espumantes Trentodoc. Passei de um Ferrari perlé para um perlé rosé, que, segundo me disse o gerente, combinava bem com massas.
Sim, nosso planeta está em maus lençóis. Mas acho que faríamos bem em seguir o exemplo dos italianos. Se vamos todos afundar, que o façamos em grande estilo.
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