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Saúde e Boa Forma

Alucinógeno mostra potencial para combater a depressão

Ainda não se sabe se estamos diante de um novo tratamento —talvez o maisrevolucionário dos últimos anos — ou apenas distribuindo mais um alucinógeno para pacientes desesperados em um número cada vez maior de clínicas ao redor dos EUA.

Ele se chama quetamina, ou "Special K", como é conhecido na linguagem das ruas. Embora seja usada como anestésico há anos, pequenos estudos realizados por centros médicos de prestígio sugerem que a droga possa aliviar os sintomas da depressão nas pessoas que não veem melhora no uso de remédios convencionais, como Prozac ou Lexapro.

Com seu uso, os sintomas parecem sumir em horas, e não em semanas, como exige o tratamento tradicional.

Alguns especialistas, porém, afirmam que ela não foi estudada a fundo e, por isso, só deve ser usada para testes clínicos; na verdade, muitos se mostraram alarmados com o número de clínicas que atualmente oferecem tratamento com a quetamina, cobrando centenas de dólares por sessão.

"Não sabemos quais são os efeitos colaterais de longo prazo", admite o Dr. Anthony J. Rothschild, professor de Psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Massachusetts. As companhias farmacêuticas esperam resolver o problema desenvolvendo medicamentos que funcionem como a droga, mas sem causar sequelas, geralmente descritas como "experiências extracorporais".

Uma empresa chamada Naurex alega que seu remédio, o GLYX-13, não causou esse tipo de reação em um experimento já em estágio adiantado e mostrou sinais de redução da depressão em cerca de metade dos 400 pacientes testados.

Uma vez que a quetamina há muito foi aprovada para anestesia, os médicos podem utilizá-la "off-label" (prescrevê-la para uma indicação não incluída na bula) no combate à depressão. Há clínicas cobrando de US$300 a mais de US$1 mil por tratamento.

Para os críticos, os pacientes que sofrem da forma mais grave da doença podem estar desesperados demais para avaliar os riscos adequadamente.

"Estamos falando de um grupoparticularmente vulnerável", diz Dominic A. Sisti, professor assistente de Ética na Medicina da Universidade da Pensilvânia. Além dos efeitos de cunho psicótico, a quetamina pode elevar a pressão sanguínea e os batimentos cardíacos. Entre as pessoas que abusam da droga, há evidências de que o excesso cause o declínio das funções cerebrais e problemas de bexiga. Ainda assim, há aqueles que se dizem preparados para assumir o risco. "Penso no preço que pagaria se não usasse a quetamina; para mim, seria a morte certa", afirma Dennis Hartman, um empresário de 48 anos de Seattle.

Ele conta que depois de passar a vida lutando contra um quadro grave, já tinha até escolhido a data para cometer o suicídio quando se inscreveu para fazer o teste clínico da droga no Instituto Nacional de Saúde, há dois anos. Sua depressão desapareceu e desde então vai a uma clínica em Nova York a cada dois meses para receber nova infusão.

Um discurso comum entre os defensores da substância é o fato de que as questões sobre sua segurança são sempre levantadas pelas companhias farmacêuticas, que não têm incentivo financeiro para desenvolvê-la – por ser genérica – e, com isso, a encaram como uma ameaça a seus produtos.

Acredita-se que a quetamina funcione porque bloqueia os receptores no cérebro do N-metil-D-aspartato, ou NMDA, que interage com um neurotransmissor chamado glutamato.

"A impressão é a de que conexõessinápticas, aquelas que nos ajudam a lidar com o dia a dia, se refazem", explica o Dr. John H. Krystal, diretor de Psiquiatria da Universidade Yale em New Haven, em Connecticut, e pioneiro no estudo da quetamina para o combate à depressão.

O Dr. David Feifel, professor dePsiquiatria da Universidade da Califórnia em San Diego, é um dos poucos profissionais a oferecer a droga como tratamento. E diz que o que basicamente pode ser considerada uma "viagem psicodélica" acaba rapidamente depois do fim do tratamento.

Uma de suas pacientes, Maggie, de 53 anos, conta que depois de receber a primeira dose, foi transportada para uma "dimensão completamente diferente". A viagem acabou logo em seguida, mas horas depois, a depressão que combateu a vida toda começou a sumir. "Jamais tinha sentido nada parecido antes", afirma ela.

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