Uma pequena ponte sobre um canal se abre —ou melhor, se enrola, como uma lagartixa— para dar passagem a barcos. Um prédio para exposições em Xangai parece revestido de espinhos de ouriço. Um píer no rio Hudson, em Nova York, é recriado como parque insular em miniatura, com um anfiteatro disposto entre colinas liliputianas.
Todas essas são obras do britânico Thomas Heatherwick, 45 anos, polimático criador de esculturas, mobília e obras arquitetônicas, alguém que atravessa fronteiras que poucos artistas e designers ousam transpor.
Sua primeira grande exposição nos EUA —“Provocations: The Architecture and Design of Heatherwick Studio” (Provocações: a arquitetura e o design do Estúdio Heatherwick)— está em Nova York até 3 de janeiro no Museu Cooper Hewitt, Smithsonian de Design, com 43 modelos e fotos de obras surpreendentes.
Elas incluem o elogiado pavilhão britânico na Exposição Mundial 2010 em Xangai, que ficou conhecido coloquialmente como a Catedral de Sementes. A estrutura continha 66 mil “espinhos” finos de acrílico dentro dos quais foram jogadas 250 mil sementes colhidas em todo o mundo. O trabalho ganhou o primeiro prêmio de design da Exposição.
Outra obra foi o caldeirão das Olimpíadas de 2012 em Londres, com 204 pétalas em chamas.
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Leia a matéria completaEsses trabalhos consolidaram a reputação de Heatherwick como alguém capaz de surpreender e agradar ao público com suas criações arquitetônicas.
Seu projeto mais recente para a renovação do distrito de Hudson Yards, em Manhattan, pode virar um marco da cidade.
Por enquanto, porém, está cercado de sigilo. Falando à revista “Fortune” dois anos atrás, Stephen M. Ross, presidente da Related Companies, uma das empresas envolvidas na renovação de Hudson Yards, comparou o projeto à Torre Eiffel. Porém, outra pessoa descreveu um conceito muito mais grandioso que a ideia original das empresas, que previam uma escultura numa praça diante do centro comercial vertical de Hudson Yards.
Heatherwick idealizou um “vaso” no formato de cálice, atravessado por dezenas de escadas. Ele não deu maiores detalhes, prometendo apenas “alguma coisa com a qual a população da cidade vai se engajar, não apenas algo para ser olhado de longe”.
O projeto de Hudson Yards surge depois de Heatherwick ter se envolvido nas discussões políticas e nas finanças incertas do Parque Hudson River, quando, em 2012, foi convidado a projetar algo para substituir o píer 54, que estava decrépito.
Ele propôs um parque-ilha montado sobre estacas coroadas por floreiras gigantes que criariam uma paisagem densamente plantada e pitoresca.
Madelyn Wils, da Fundação Hudson River Park, queria aprimorar um projeto feito em 2005 para o píer. Como precisava de financiamento privado, convidou Barry Diller, presidente da IAC/InterActiveCorp. Eles contrataram Heatherwick depois de ouvi-lo discutir ideias.
Heatherwick desenhou uma ilha topograficamente complexa —complexa demais para ser paga com recursos públicos. Um montículo de 19 metros coroa uma área gramada que se abre para vistas da cidade. Fissuras na paisagem emolduram vistas do rio a partir de passarelas íntimas. Um anfiteatro de 700 lugares toma o lugar do palco de andaimes do píer 54.
A prefeitura de Nova York concordou em contribuir com US$ 17 milhões para o projeto. O restante do custo será coberto por Diller e sua mulher, Diane von Furstenberg. A estimativa mais recente de custo total é de US$ 130 milhões.
A Fundação Hudson River Park pretende concluir a obra em 2018, mas em junho grupos cívicos pediram que a obra fosse suspensa até o projeto passar por nova revisão ambiental e ser aprovado pelo Legislativo.
“Por que nós, o público, tão frequentemente somos a plateia, e não o cliente?”, indagou a crítica de design Alexandra Lange no site Curbed. “Por que não podemos definir a agenda?” Ela gostaria de ver mais filantropos “usarem o narcisismo para o bem”, aplicando seus milhões para catalisar obras e investimentos em partes mais carentes da cidade.
Embora pense que obras cívicas como o píer 55 se justificam quando contam com o apoio de recursos privados, Heatherwick considera que obras que possuem o poder de transformar comunidades também merecem o apoio público.
À medida que seus projetos vêm ganhando envergadura, eles põem o público diante de um dilema: as comunidades devem aceitar o presente de um design que talvez seja mais ambicioso do que algo que poderia ser fruto de recursos públicos limitados, construído por meio de um processo público? A imaginação prodigiosa de Thomas Heatherwick não facilita essas decisões.
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