Membros do relativamente pequeno clã de arte moderna de Moscou ainda se lembram da festa de inauguração do Centro Garage de Cultura Contemporânea, sete anos atrás.
Amy Winehouse passeou pelo palco (tropeçando), o serviço de bufê foi importado de Londres e os mundos da arte global, da moda e da riqueza russa fabulosa convergiram como nunca antes.
Desde então, o centro virou presença constante no cenário das artes e, de quebra, ganhou a designação de museu.
Neste mês, o Garage ganhou uma nova sede, localizada em um antigo restaurante decadente da era soviética, adaptado com projeto de Rem Koolhaas.
A empresária e colecionadora russa Dasha Zhukova abriu o Garage em 2008 com o patrocínio do marido, o bilionário petrolífero Roman A. Abramovich, conhecido internacionalmente como proprietário de um dos maiores clubes de futebol do mundo, o Chelsea.
Entre as obras de arte moderna e contemporânea que Zhukova levou à Rússia, havia trabalhos de Mark Rothko, Christian Marclay e Marina Abramovic.
A Rússia possui museus maravilhosos, mas a atitude de muitos é de pouco-caso em relação ao público. Guardas com frequência tratam os visitantes como se fossem suspeitos, programas educativos são raros e os cafés são espaços acrescentados depois de os museus já estarem prontos.
Já o Garage atrai um público jovem e descolado. O museu criou programas educativos, um restaurante muito procurado, uma livraria com obras publicadas pelo próprio museu e uma biblioteca pública dedicada exclusivamente à arte. Com o novo título de mediadores, seus guardas foram treinados a sorrir e a explicar as obras de arte.
“Desde o primeiro momento, essa instituição não apenas procurou exibir arte de alto nível de todo o planeta”, comentou Valentin Diaconov, crítico de arte do jornal “Kommersant”. “Ela também procurou ser diferente da ‘instituição do museu’ como é possível ser na Rússia. Há esquisitices e café.”
Porém, algumas pessoas rejeitam o fato de o Garage muitas vezes ser descrito como um oásis em um deserto artístico, dizendo que sua atratividade é uma questão de relações públicas.
“Não são lojas e restaurantes que determinam a qualidade de um museu”, afirmou Marina Loshak, a nova diretora do Museu Pushkin de Belas-Artes, em Moscou, uma instituição pública.
“Gostaríamos de receber uma parte dos visitantes jovens do Garage, e o Garage sonha em receber nossos visitantes experientes, educados em arte.”
Loshak supervisiona um projeto de US$ 425 milhões, previsto para durar sete anos, que visa acrescentar 11 novos prédios ao Museu Pushkin. Ao mesmo tempo em que elogiou o Garage, ela duvidou que ele esteja definindo os padrões a serem seguidos por todos os museus russos.
O Pushkin atraiu quase 2 milhões de visitantes no ano passado, enquanto o Garage recebeu 300 mil.
O artista contemporâneo Valery Orlov, é uma das pessoas para quem o Garage sempre foi mais palco que substância. “O lugar é mais uma ideia social que uma ideia artística”, explicou. “O problema é que, dez ou 15 anos atrás, muitas namoradas de homens ricos começaram a prestar atenção à arte contemporânea. É uma espécie de tradição que, se você é um banqueiro rico, sua namorada deve abrir uma galeria.”
A nova sede do Garage está no parque Gorky, que nos últimos anos foi recuperado pela classe média moscovita, deixando de ser ocupado por brinquedos de parque de diversões pelos quais era conhecido. Renovado por US$ 27 milhões, o prédio ocupa um espaço de 6.000 m2 que antes era um restaurante muito popular com espaço para 1.200 pessoas.
Duas pinturas monumentais encomendadas ao artista russo Erik Bulatov e que incluem a frase “venha ao Garage!” serão visíveis de fora do edifício. Em vez de um acervo permanente, o Garage terá à sua base arquivos adquiridos pelo museu.
Zhukova disse que, com a abertura da casa permanente do Garage, ela espera “conectar internamente a história da arte contemporânea russa, depois ampliar essa história e conectá-la ao contexto internacional mais amplo da arte contemporânea.”