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Argentina domina esporte alternativo ao golfe: o futegolfe

Matías Perrone dá o pontapé inicial num treino de futegolfe | /
Matías Perrone dá o pontapé inicial num treino de futegolfe (Foto: /)

Nico García agachou-se para estudar o traiçoeiro trajeto de seis metros que a bola deveria percorrer na sua aproximação até o buraco. Precisando apenas de um “bogey” para ganhar o título nacional argentino, ele fez a bola serpentear pelo campo morro abaixo, e ela parou bem perto do buraco. Ele cutucou-a para dentro e venceu —não com um taco, mas com a chuteira.

García não estava jogando golfe, e sim futegolfe, híbrido que empresta regras e campos de um esporte bem estabelecido, só que usando uma bola maior, um buraco de 53 centímetros e os pés em vez dos tacos.

A Argentina se tornou a força dominante desse jogo que desponta como uma das alternativas modernas ao golfe.“Não há dúvida de que estamos num nível superior aos outros países”, disse Christian Otero, 36, melhor jogador do ranking argentino.

O futegolfe, jogado com uma bola de futebol oficial numa versão mais curta de um campo de golfe, surgiu há seis anos na Holanda. Chegou à Argentina em 2010 e não parou de se desenvolver. Ligas organizadas foram formadas, e os melhores jogadores competem no exterior.

Javier de Ancízar, presidente da associação argentina de futegolfe, diz que as competições regulares permitem que os jogadores locais desenvolvam rapidamente o seu jogo. Mas a força da Argentina no cenário mundial também é atribuída a um talento inato. “Quando você nasce, uma bola de futebol é o primeiro presente que ganha”, disse Marcos Cortés, 29, que é o 21° no ranking nacional. “Chutar a bola está em nossa fisiologia; é automático.”

Foi um argentino radicado em Palm Springs (Califórnia) que introduziu o jogo nos Estados Unidos e ajudou a fundar a Liga Americana de Futegolfe. O esporte está crescendo nos EUA, onde campos de golfe o adotaram na tentativa de aumentar seu faturamento.

A Argentina vai sediar a segunda Copa do Mundo no ano que vem, depois da edição inaugural realizada em 2012 na Hungria, outro celeiro de talentos.

O golfe tradicional continua sendo um passatempo da elite na Argentina, e a maioria dos jogadores de futegolfe locais é egressa do futebol. “O futebol é minha mulher”, disse Matías Perrone. “E o futegolfe é minha amante; ela me tenta.”

Perrone, 32, um dos melhores jogadores do mundo, também é atacante de um time de futebol em Buenos Aires. Em 20 anos, disse ele, os únicos fatos que o levaram a desfalcar seus times foram uma doença violenta e uma eliminatória da Copa do Mundo de futegolfe. No ano passado, ele competiu em Nova Jersey e na Califórnia, naqueles que foram considerados os primeiros eventos a incluir profissionais. Perrone e Otero derrotaram adversários e venceram os dois torneios, e compatriotas encheram as primeiras colocações.

Mas, apesar de os jogadores argentinos terem se estabelecido como os melhores do mundo, os iniciantes às vezes sofrem para se adaptar às frustrações e à etiqueta do esporte. “O futebol é cheio de manhas”, disse Julio Colacci, 40, que disputa o circuito de Mar del Plata. “Os argentinos são malandros, achamos difícil respeitar as regras.”

O equipamento é improvisado. Os jogadores usam camisas polo e chuteiras de futebol feitas para grama artificial. Alguns usam modestos cones de treinamento como “tees” (a base a partir da qual a bola é lançada inicialmente). Todos os jogadores, no entanto, optam pelo mesmo modelo de bola, a Adidas Speedcell 2011, valorizada por correr mais rápido nos gramados mais longos.

Otero tem 15 Speedcells, mas, como o modelo não é mais fabricado, os jogadores as caçam para si como um tesouro escondido. Ávido por mais uma bola no ano passado, Cortés parava de cidade em cidade numa viagem até um torneio no Uruguai, até encontrar uma Speedcell numa loja de artigos esportivos de uma cidade perto da fronteira. “É uma viagem de quatro horas, mas demorei oito ou nove”, contou.

Agora, Otero e Perrone desenvolveram um protótipo de bola que eles consideram mais precisa.

A técnica para os chutes de aproximação se assemelha àquilo que jogadores de futebol brincam depois do treino, escolhendo um alvo e chutando bolas naquela direção. Michael Jansen, 57, um dos criadores do jogo, disse que uma versão da brincadeira serviu de inspiração para o futegolfe.

Há antecedentes históricos desse esporte. O “codeball-on-the-green”, criado no final da década de 1920 por William E. Code, em Chicago, era uma alternativa barata ao golfe e ao tênis.

Uma notícia de jornal de 1937 informava que o codeball havia se difundido no Meio-Oeste e já tinha 50 mil adeptos. Comentando a aparente simplicidade do esporte, outra reportagem observava: “Chutar uma bola grande e macia dentro de um desses recipientes de 18 polegadas [45 centímetros] pode parecer fácil, mas não é”.

Décadas mais tarde, mesmo que os buracos sejam maiores, isso continua válido. “O mais difícil”, disse Gustavo Galarza, 28, que terminou em 20° lugar entre 95 competidores na Argentina, “é meter a bola no buraco”.

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