Os rizicultores do Camboja ainda lembram vividamente da má reputação de seu produto. Duro, sujo e sem processamento, era impossível cozinhá-lo uniformemente, e os próprios agricultores o vendiam como ração para porcos em troca de dinheiro ou de arroz de melhor qualidade produzido no Vietnã ou na Tailândia.
Enquanto outros produtos agrícolas se fortaleciam, a produção de arroz declinava, um problema grave em um país no qual 80% da população trabalham em arrozais. Em 2009, o Camboja exportou apenas 11.442 toneladas de arroz processado, algo relativamente inexpressivo em termos globais.
Todavia, enquanto a Tailândia, um dos maiores exportadores de arroz do mundo, enfrenta um período de instabilidade, o arroz cambojano ganhou qualidade e as exportações aumentaram. No ano passado, o Camboja foi o quinto maior exportador de arroz do mundo e o segundo de arroz jasmim premium. As vendas de arroz processado chegaram a 343.692 toneladas.
Bun Chan Tony acompanha de perto essa transformação. Atualmente, seus seis hectares rendem US$ 6 mil (R$ 13,5 mil) por ano, ou seja, bem mais do que no passado.
"Quando chega a época chuvosa e há abundância de água, nós plantamos arroz. Na época de estiagem plantamos milho, mas o arroz está na base da alimentação e não pode faltar à mesa das pessoas", disse Tony.
Sistemas de processamento modernos adotados nos últimos anos estão ajudando a valorizar o arroz cambojano no mercado internacional. E o arroz processado localmente também ganhou uma ajuda inesperada da Tailândia, onde as reservas internas do produto e altos subsídios governamentais ameaçaram gerar escassez de arroz nos mercados globais.
O Camboja definiu uma meta de 907.185 toneladas de arroz processado para exportação até o final de 2015. A fim de atingir essa meta ambiciosa, foi formada em maio passado a federação de rizicultura, por meio da fusão de três entidades do setor e da eleição de Sok Puthyvuth como presidente. Filho do primeiro-ministro-adjunto do Camboja, Sok An, Puthyvuth disse que essa iniciativa eliminou parte da concorrência predatória e definiu melhor as metas do setor.
Há, porém, obstáculos significativos para atingir a nova meta. O país precisa conquistar novos mercados, como os Estados Unidos, a China e a África.
Puthyvuth disse que é preciso melhorar a qualidade do produto e as relações entre agricultores, processadores e exportadores. O governo lamenta que apenas 40% dos 9 milhões de agricultores do Camboja produzam arroz adequado para exportação. Um número excessivo de agricultores ainda usa agrotóxicos e sementes baratas de má qualidade.
"A confiança entre todos os elos da cadeia agricultores, processadores e exportadores ainda não é forte o suficiente", comentou ele.
O arroz cambojano também enfrenta barreiras em mercados cruciais. A Itália quer que a União Europeia imponha uma tarifa sobre as importações desse arroz, com o argumento de que o produto italiano não pode competir com seu preço.
Tony afirmou que está tentando melhorar a qualidade do arroz combatendo o uso de agrotóxicos e pagando caro pelas melhores sementes, que custam até US$ 3,50 (R$ 7,90) por quilo.
Ele também salientou que muitos problemas se devem ao governo, que ainda precisa criar mais acesso a mercados. Muitos agricultores são analfabetos, moram em áreas remotas e confiam em intermediários, muitas vezes estrangeiros, que compram o arroz para processar, impondo condições e preços.