A sala de Nidaa Badwan tem menos de nove metros quadrados iluminados por uma única janela e uma lâmpada nua. Ela cobriu uma parede com tinta azul-marinho e outra com caixas de ovos coloridas. Há um espelho de tamanho médio, uma antiga máquina de costura e um ferro de passar, dois cavaletes, uma escada amarela e um bujão de gás onde ele ferve a água para fazer um cappuccino.
Presa pela religiosidade restritiva e pelos constantes conflitos entre Gaza e Israel, Nidaa, de 27 anos, quase nunca saiu dessa sala em mais de um ano. Entre essas paredes, ela criou seu mundo e uma série de autorretratos que é ao mesmo tempo clássica e de vanguarda.
“Eu espero a luz”, disse ela, que às vezes leva entre uma semana e um mês para produzir fotografias que parecem pinturas. “Tudo é bonito, mas só na minha sala, não em Gaza. Estou pronta para morrer neste quarto, a menos que encontre um lugar melhor.”
O projeto se chama “100 Dias de Solidão”, em homenagem à obra de Gabriel García Márquez, “Cem Anos de Solidão”, embora o isolamento de Nidaa tenha sido muito mais longo. Seus 14 autorretratos, todos de 100 por 50 centímetros, estão em exposição na Al Hoash, uma galeria de arte de Jerusalém Oriental, cuja diretora, Alia Rayyan, disse que eles lembravam os mestres holandeses dos séculos XVI e XVII com toques modernos.
Um deles mostra Nidaa deitada de bruços vestindo um macacão jeans e um gorro de lã, tornozelos nus cruzados, olhando para um laptop. Outro, chorando ao descascar uma cebola. Enfiando a linha na agulha. Bebendo algo de uma caneca de metal. Usando uma velha máquina de escrever, meditando, passando batom.
Após a guerra de três semanas do Hamas, a facção islâmica que domina Gaza, em 2008 e 2009, Nidaa pendurou pinturas abstratas nas paredes do Centro Cultural Crescente Vermelho, que havia sido bombardeado. Em 2012, ela estava entre os 40 artistas da mostra “Isso também é Gaza”, com fotografias da cabeça de uma mulher coberta por um saco, que a historiadora da arte Samia Halaby disse “expressar a angústia da vida em Gaza”.
Em 18 de novembro de 2013, Nidaa disse ter sido assediada por autoridades do Hamas quando ajudava em um programa de artes para jovens. Queriam saber por que ela estava andando com homens. Ela foi repreendida por trajar um macacão jeans e eles a fizeram assinar um documento prometendo usar os tradicionais trajes islâmicos. No dia seguinte, ela se recolheu à sua sala.
Nos primeiros dois meses, segundo ela, pensou em suicídio, esforçou-se para tomar a sopa trazida pela irmã, tomou remédios contra a ansiedade, dormiu no chão e chorou. Por fim, pegou sua câmera e começou a seguir a luz.
“Aos poucos, comecei a amar o isolamento. Ele não é uma doença. Ele me curou.”
Nidaa disse ter saído de casa apenas duas vezes nos últimos 15 meses. Alia, a diretora do Al Hoash, disse que Gaza pode não ser visível no trabalho da artista, mas está lá.
“Ela fala sobre sua própria criação do espaço, um sonho, na verdade, como a vida poderia ser lá, mas isso só funciona em combinação com o que acontece do lado de fora. É o diálogo, a contradição entre sua imagem e a imagem que temos de Gaza em nossas cabeças, que deixa seu trabalho tão interessante.”
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