• Carregando...
Um mural grande, feito de fotos do movimento de protesto, mostra o poeta nacional ucraniano Taras Shevchenko | fotos de Joseph Sywenkyj para The New York Times
Um mural grande, feito de fotos do movimento de protesto, mostra o poeta nacional ucraniano Taras Shevchenko| Foto: fotos de Joseph Sywenkyj para The New York Times
  • Funcionário do Museu Nacional de Arte muda de lugar um retrato do ex-presidente Viktor F. Yanukovich

O Museu Nacional de Arte da Ucrânia abriu recentemente uma mostra de objetos da residência do ex-presidente Viktor F. Yanukovich, incluindo um retrato dele em estilo de arte folclórica, feito de feijões e sementes de papoula.

Um grupo de folk-rock, composto inteiramente de mulheres, fez uma apresentação noturna em estilo cabaré, e outros artistas produziram vídeos sobre o "dia seguinte" ao levante popular.

Poucos meses se passaram desde que Yanukovich foi deposto e mais de cem manifestantes morreram. Mesmo nos momentos mais sombrios, contudo, os protestos eram marcados pelo fervor criativo. Artistas transformaram a praça principal, o Maidan, num teatro vivo.

O ucranianos continuam a voltar-se à cultura para se afirmar e definir em tempos de tumulto, como vêm fazendo grupos semelhantes em anos recentes após levantes em cidades que vão do Cairo ao Rio de Janeiro.

Resquícios das manifestações de massa no Maidan já estão sendo colecionados. Visitar Kiev hoje é testemunhar o momento em que o presente se torna história.

O pintor Aleksandr Roytburd, 52, sorriu diante do retrato de Yanukovich feito com sementes de papoula, um dos 500 objetos de uma mostra no Museu Nacional de Arte. "Parece uma brincadeira do tempo stalinista. Um presente para o camarada Stalin."

E um centro público de arte folclórica e popular já começou a colecionar artefatos da revolta, com o objetivo de futuramente criar um museu do Maidan.

"Geralmente os museus tratam do passado, mas neste momento temos a oportunidade de registrar a história de hoje", disse Ihor Poshyvailo, 46, vice-diretor do museu Ivan Honchar.

Ele e outros curadores estão colecionando bandeiras pintadas à mão, escudos improvisados feitos de placas de trânsito, macas, capacetes, uma catapulta grande e até coquetéis Molotov sem a gasolina. "As pessoas dizem: ‘O Maidan não acabou’. Então estamos tentando juntar tudo", ele disse.

Na exposição sobre Yanukovich, "O Códice Mezhigorye" (Mezhigorye é o nome da residência do ex-presidente, nos arredores de Kiev), um grupo de vasos de vidro recebeu o título travesso de "O Livro da Transparência".

Muitos retratos do ex-presidente estão numa seção chamada "O Livro da Vaidade", junto com o certificado de uma estrela batizada com o nome de Yanukovich.

"A exposição é uma tentativa de tecer uma crítica por meio de uma análise irônica", disse Roytburd.

Hoje a praça Maidan já recuperou seu movimento habitual, mas os prédios queimados e os memoriais improvisados aos mortos também a converteram numa instalação viva e sombria.

Ambulantes vendem ímãs em forma de privada dourada, inspirados pelo boato de que uma privada de ouro teria sido encontrada na mansão do ex-presidente.

Os protestos foram acompanhados por um aumento grande no orgulho nacional na Ucrânia. Cartazes comemorando o bicentenário do nascimento do poeta nacional ucraniano Taras Shevchenko estão por toda parte em Kiev.

A parte oriental da Ucrânia há muito tempo se identifica com as culturas russa e ucraniana. Mas em Kiev, ao menos, a energia criativa é marcada pela identidade ucraniana e a oposição à Rússia.

"Acho que o clima não é de divisão –é multifacetado", opinou Katerina Botanova, diretora do Centro Fundação de Arte Contemporânea da Ucrânia.

O pintor Matvey Veisberg, 55, de Kiev, fez 32 pinturas pequenas durante os protestos. A tela final mostra um pedacinho de céu azul sobre o Maidan.

"É céu azul, mas isso não levantou meu astral", ele comentou. "Não houve uma catarse."

Colaborou Daniel Rzhenetskyy

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]