Depois de passar horas fazendo piruetas, dançando números de jazz e curtindo música de shows americanos num estúdio em Manhattan, Futaba Kawakami, de 8 anos, saiu do acampamento de férias TADA Youth Theater suada e um pouco rouca. Tirou sua camiseta nova do programa e pediu um sorvete à sua mãe.
Então Futaba e sua mãe, Keiko, foram de táxi até um apartamento de luxo atrás do hotel Plaza, alugado por período curto pela família Kawakami, que vive em Tóquio, para que Futaba pudesse conhecer algo que é comum para muitas crianças de grandes cidades: um "day camp" algo como uma colônia de férias, só que as crianças participantes não dormem no local.
Os diretores desses programas educativos de férias dizem que crianças de famílias de alto poder aquisitivo de Pequim, Seul, Taipé e Tóquio invadem anualmente os estúdios de teatro, centros esportivos, piscinas e laboratórios de ciências de Nova York. Para quem pode pagar por isso, a experiência já virou um rito internacional de passagem.
Dez anos atrás, Cari Kosins, diretora de programas de férias da Little Red School House e da Elisabeth Irwin High School, raramente recebia um e-mail do exterior. Este ano, nove participantes e suas famílias vieram de Bali, da China, do Japão e de Cingapura para participar de "aulas de espionagem", workshops de criação de bijuterias, sessões de bandas de rock e escolinhas de futebol.
"As famílias vêm e depois voltam e contam o que viveram a seus amigos em seus países", ela comentou. "Não é incomum recebermos várias famílias da mesma cidade ou escola."
As famílias mais ricas de Nova York geralmente não colocam seus filhos em "day camps" na cidade, optando em vez disso enviá-las a colônias de férias no Maine ou nos montes Adirondack, para passarem o verão inteiro. Os "day camps" na cidade geralmente recebem crianças ou adolescentes com mãe e pai que trabalham, quando nenhum dos dois pode tirar férias no verão e que precisam de opções para manter seus filhos ocupados. Mas famílias abastadas de outros países enxergam os "day camps" em Nova York como uma oportunidade cobiçada.
Futaba disse que, para as crianças com quem convive no Japão, participar de um day camp em Nova York é uma experiência obrigatória. "É uma coisa realmente cool", ela falou, expressando-se em inglês quase perfeito.
"Não temos esse tipo de oportunidades no Japão", comentou sua mãe.
No verão passado, a consultora educacional Grace Leng acompanhou 15 estudantes chineses de 7 a 12 anos de idade numa visita de sete dias aos Estados Unidos. Filhas de executivos de tecnologia, hoteleiros e industriais, elas passaram suas manhãs na Robofun, projetando carros eletrônicos e monstros robóticos.
Outras crianças asiáticas chegam sem acompanhantes adultos. Foi o caso de meia dúzia de adolescentes da China e do Japão que participaram no ano passado do CampusNYC, um programa culinário de duas semanas. Hospedados num dormitório, passaram seus dias preparando "blanquettes de veau", "Philly cheesesteaks" e bolo de gengibre e chocolate sem farinha. Nos fins de semana, fizeram tours gastronômicos da cidade.
A maioria das crianças chega com pelo menos um de seus pais e se hospeda em apartamentos alugados de alto padrão. O apartamento alugado por Futaba e sua mãe tem cozinha com balcões de granito e sala ampla.
Somando as passagens aéreas, os preços dos "day camps", dinheiro para gastos extras e o custo da alimentação, muitas famílias podem gastar mais de US$ 15 mil por filho, segundo a consultora educacional Evelyn Sinae Jang, de Seul.
Douglas Murphy, diretor do CampusNYC, disse que os participantes internacionais do ano passado vieram armados com os cartões de crédito de seus pais e os usaram para gastar centenas de dólares com bijuterias. Uma adolescente gastou US$ 800 numa loja de maquiagens.
Mas a maioria dos pais diz que manda seus filhos a day camps em Nova York para receberem algo que o dinheiro não compra: imersão na cultura americana.
Uma mãe, Zou Lifen, disse que a família quer que seu filho de 5 anos, Cao Zilin, aprenda inglês e se familiarize com o modo americano de viver, participando do Pierce Country Day Camp, em Roslyn, Nova York. A esperança é que ele faça o colegial e a faculdade nos Estados Unidos. No acampamento, Tony, como ele estava sendo chamado, mergulhou numa das sete piscinas da colônia de férias, jogou basquete, decorou panquecas e, na aula de artes, fez um colar com seu nome escrito.
Keiko Kawakami gostaria que Futaba pudesse expressar-se melhor. "Em casa, ela fica inibida", explicou. "Mas ela se solta quando está em Nova York. Quero que ela sinta essa confiança o tempo todo."
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