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Astro do techno deixa passado underground

Paul Kalkbrenner resolveu usar vocais em seu novo álbum, “7” | Katharina Poblotzki/The New York Times
Paul Kalkbrenner resolveu usar vocais em seu novo álbum, “7” (Foto: Katharina Poblotzki/The New York Times)

O produtor de techno alemão Paul Kalkbrenner não é só um músico famoso em seu país. Ele é também um astro de cinema (de “Berlin Calling”, de 2008) e um herói popular, depois de levar suas composições eletrônicas minimalistas do underground da capital alemã para uma apresentação diante de meio milhão de pessoas no ano passado, por ocasião dos 25 anos da queda do Muro de Berlim.

Agora, as ambições de Kalkbrenner o afastaram da cena clubber de Berlim, onde vigora uma suspeita, típica da década de 1990, contra qualquer coisa que seja ostensivamente comercial. Ele acaba de lançar “7”, sétimo álbum da sua carreira, mas o primeiro por uma grande gravadora, a Columbia/Sony International.

O produtor e o selo fonográfico esperam pegar carona na atual maré da música eletrônica dançante (EDM, na sigla em inglês), uma indústria que movimenta US$ 6,9 bilhões por ano.

Kalkbrenner, que nasceu em Berlim Oriental e cresceu ouvindo o techno político de artistas como o Underground Resistance, de Detroit, quer levar seu sucesso a outros níveis, mas sem sacrificar a qualidade artística.

Ele toma cuidado para não virar um “embaixador das raves”. Disse que pretende se manter “o mais distante possível de todo esse troço de EDM”, que para ele “não tem a ver com música” mas “com soltar rojões, atirar tortas e a cada 30 segundos, ‘bum’”, disse. “Faço outra coisa.”

Ao contrário de outros artistas, Kalkbrenner não se considera um DJ —em vez de tocar versões pré-gravadas das suas músicas, intercaladas com as de outros, como é habitual, ele cria novos arranjos das suas próprias faixas digitais quando as executa ao vivo.

Ainda assim, Kalkbrenner admite que a ascensão da EDM “mainstream” contribuiu para o seu próprio sucesso.

Para se tornar mais palatável, Kalkbrenner acrescentou algo às suas faixas dinâmicas e cintilantes: vocais. As melodias simples e luminosas são um ingrediente-chave para o potencial da música dançante “mainstream”. É o caso dos sucessos “Lean On”, canção do Major Lazer em parceria com o cantor MO, e do remix house alemão de “Cherleader”, de OMI.

Mas havia um problema com esses vocais: Kalkbrenner detesta colaborações com outros artistas. “Ele não estava interessado em parcerias com nenhum dos vocalistas contemporâneos de destaque”, disse Wolfgang Boss, vice-presidente-executivo da Sony Music International para artistas e repertório. A Sony pensou numa alternativa e propôs a Kalkbrenner que ele colhesse amostras para o seu novo trabalho no catálogo Legacy da gravadora.

Por isso, “7” apresenta algumas vozes familiares: Luther Vandross, sampleado de “Never Too Much”, em “A Million Days”; “You’re the One for Me”, faixa pós-disco do D Train, em “Cloud Rider”; a voz suave de Grace Slick, instantaneamente reconhecível sobre o bate-estaca de “Feed Your Heart”, num sample de “White Rabbit”.

Na última vez em que Kalkbrenner usou vocais numa música, em 2008, também fez sucesso —“Sky and Sand” ganhou disco de platina e entrou na trilha de “Berlin Calling”, filme no qual Kalkbrenner interpreta um DJ afetado pelas drogas.

O filme, que passou quase três anos em cartaz num cinema de Berlim, levou seu astro a sair do underground e se tornar famoso na cidade.

“Instantaneamente, ele se tornou um deus e um ponto de referência em termos de autenticidade”, disse Patrick Moxey, presidente do selo Ultra Music, do qual a Sony Music é sócia.

Inicialmente, Kalkbrenner rejeitou essa fama. “Depois de ‘Berlin Calling’”, contou ele, “eu fiz um álbum sem nenhuma foto na capa e só com coisas instrumentais”, para que ninguém questionasse sua boa-fé com a música techno.

No entanto, nos últimos cinco anos, o pensamento do produtor começou a mudar. Ele se casou com Simina Grigoriu, também artista do gênero techno, e neste ano o casal teve um filho.

Kalkbrenner disse que esses dois fatos o ajudaram a perceber que “a jogada mais adulta” seria se esforçar para tirar o máximo da sua profissão.

“A armadilha de ser cool”, ou seja, o desejo de permanecer no underground só para provar alguma coisa a alguém, “tornou-se obsoleta demais”, disse ele.

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