Um alto funcionário alemão pediu que o Google fosse proibido. Um ministro francês declarou que a empresa é uma ameaça à soberania do seu país. Um executivo europeu do mundo editorial comparou-o a um dragão wagneriano. Por toda a Europa, o Google tem estado sob fogo cerrado, o que reflete os grandes desafios enfrentados por empresas americanas de tecnologia. O Google recebe as críticas no lugar do intrusivo governo americano e da preocupação sobre o domínio tecnológico dos EUA. Recentemente, as coisas pioraram. Reguladores forçaram a empresa a ceder mais em um acordo antitruste, exigindo que o Google faça alterações adicionais em seu algoritmo de busca. Quando a empresa inicialmente entrou em acordo com reguladores em fevereiro, acabou saindo incólume, concordando em fazer ajustes modestos em sua fórmula de busca e evitando uma multa. Agora, o acordo está perigando. Se o Google não concordasse, os reguladores poderiam abandonar o acordo e iniciar uma acusação formal que acarretaria bilhões de dólares em multas e grandes mudanças operacionais. Essa atitude na Europa vai além do Google.
Motoristas de táxi desde Londres até Madrid protestaram contra o Uber, empresa americana de transporte compartilhado. A Apple e a Amazon estão sendo investigados por suas políticas fiscais, e os reguladores estão examinando a aquisição do WhatsApp, um aplicativo de mensagens, pelo Facebook. O Google está enfrentando a maior pressão. Aumentam as acusações de que explora injustamente sua posição dominante em buscas, que dá vantagem competitiva ao crescimento estável de suas empresas, como o YouTube, a loja de aplicativos Google Play e os alertas de notícias. Um tribunal europeu decidiu este ano que os sites de busca deverão dar ao público maior controle sobre informações pessoais. Os carros do Google Street View, que circulam coletando dados, acarretaram multas na França, na Alemanha e na Itália.
"Estamos com medo do Google," escreveu Mathias Döpfner, da Axel Springer, grande empresa editorial alemã, em carta aberta a Eric Schmidt, líder do Google. Desde 2010, a empresa triplicou o orçamento de lobby em Bruxelas para cerca de US$ 2 milhões por ano, segundo registros públicos. Ela contratou pelo menos quatro outras firmas para reforçar sua própria equipe de lobby, mostram os registros. E o Google duplicou o número de grupos externos aos quais se uniu para promover seus interesses, gerando críticas em alguns casos devido à falta de transparência. Muita coisa mudou desde que o Google foi fundado no fim da década de 90. Chegou a ser visto como uma start-up idealista cujo lema era "Não seja mau". Agora, está sendo atacado no mundo todo. No ano passado, quando seu mecanismo de busca estava sendo bloqueado pelo governo chinês, os ônibus transportando seus funcionários foram atacados em San Francisco como símbolos de desigualdade, e o Google Glass era criticado por defensores da privacidade.
"Eles já não são vistos como geeks inocentes", disse Thomas Tindemans, da Hill & Knowlton Strategies em Bruxelas. A empresa comanda cerca de dois terços do mercado de buscas dos EUA, segundo a Score, e perto de 90 por cento na Europa. Em outra frente antitruste, reguladores começaram uma investigação preliminar do Android, o sistema operacional da empresa para celulares e outros dispositivos móveis. Eles examinam muitas queixas de concorrentes como o Aptoide, provedor de aplicativos em português, que diz que os resultados de pesquisa do Google favorecem a Google Play. Outras queixas vieram de sites de arquivos de fotos e uma empresa de telecom, alegando que os resultados das buscas do Google são distorcidos. "Em conjunto, todas estas questões apontam para a necessidade premente de abordagens comuns de toda a UE para os desafios colocados pelo Google e outros grupos da era digital", diz Joaquín Almunia, regulador de concorrência na Europa. "Sua centralidade para a economia da Europa e sua presença generalizada na vida da grande maioria dos nossos cidadãos transforma-o em um dos domínios de decisões políticas da União Europeia".
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