Quando um grupo de garotas atravessou a linha de chegada da corrida de 1.600 metros num evento recente de atletismo nesta cidade, as pernas de uma das corredoras tremiam como borracha. Ela desabou nos braços de seu treinador. Isso acontece sempre que ela corre.
Kayla Montgomery, 18, descobriu há três anos que tem esclerose múltipla. Na época, ela era uma das corredoras mais lentas de sua equipe. Desde então, porém, tornou-se uma das fundistas jovens mais velozes dos Estados Unidos. No entanto, ela não consegue se conservar em pé após a linha de chegada.
Pelo fato de a esclerose múltipla bloquear os sinais nervosos transmitidos de suas pernas ao seu cérebro, Kayla consegue avançar em uma velocidade constante que, para outras corredoras, gera dor. Ela não sente essa dor, e isso gera uma circunstância que pode lhe proporcionar uma vantagem.
Mas o exercício intenso também pode provocar fraqueza e instabilidade. Como Kayla fica entorpecida quando corre, qualquer interrupção do movimento, como o fato de parar, a faz perder controle. "Quando termino a corrida, a sensação é que não há nada sob meus pés", explicou. A cada chegada, ela cambaleia e cai no chão. Seu treinador se prepara para ampará-la nos braços, carregando-a para um lado enquanto as outras corredoras concluem a prova. Minutos depois, a sensibilidade retorna e ela se levanta, pronta para correr outra vez e se antecipar a uma doença que um dia poderá forçá-la a trocar as pistas de atletismo por uma cadeira de rodas. A esclerose múltipla não tem cura.
No mês passado, Montgomery, estudante do último ano do secundário na Mount Tabor High School, ganhou o título estadual da Carolina do Norte na corrida de 3.200 metros. Seu tempo de 10 minutos e 43 segundos a coloca em 21° lugar no país.
"Quando ela recebeu o diagnóstico, me disse: Não sei quanto tempo ainda me resta, então quero correr rápido. Nada de me poupar", contou seu treinador, Patrick Cromwell. O diagnóstico foi feito quando Kayla caiu enquanto jogava futebol e ficou com as pernas entorpecidas. Ela contou ao treinador que tinha perdido a sensibilidade nas pernas enquanto corria. Um exame de ressonância magnética revelou lesões no cérebro e na espinha da atleta. Tratada, sua doença entrou em remissão, e ela voltou a correr.
"Não quero receber tratamento diferente", disse Kayla. Sob muitos aspectos, sua vida é como a de qualquer outra atleta colegial. Antes de cada prova, Kayla veste o mesmo sutiã esportivo verde, que considera que lhe traz sorte. Sua média de notas escolares é altíssima, e ela corre 80 km por semana.
Para alguns, a perda de sensibilidade à dor que Kayla apresenta durante corridas lhe proporciona uma vantagem competitiva. Outros se preocupam com os efeitos de longo prazo.
Seu médico a liberou para correr. A perda de sensibilidade é especialmente grave no caso de quedas na metade de uma corrida. Numa prova cross-country no ano passado, Kayla encostou no calcanhar de outra corredora do grupo que estava na dianteira e tombou ao chão. Caída de bruços e com as pernas abertas, ela não conseguia se levantar. As outras corredoras passavam ao seu lado. Quando viu uma rival que a ultrapassava, Kayla se reergueu, apoiando-se numa cerca próxima, e conseguiu terminar a prova na décima posição.
Foi uma aula de resiliência. "Hoje eu sei que consigo", explicou. "Pode demorar um pouco, mas, se eu cair, sei que vou conseguir me levantar de novo."
Por enquanto, Kayla Montgomery está encerrando sua carreira como atleta secundarista. Ela pretende se matricular na Universidade Lipscomb, no Tennessee. "Eu me forço a fazer", contou. "Digo a mim mesma: Sei que você está cansada, que não sente nada e que é difícil, mas você vai chegar até o fim. E eu chego."
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